Fotos do teatro serão anexadas ao inquérito

Imagens mostram má conservação do local; diretoria nega problemas

PUBLICIDADE

Por Rodrigo Brancatelli e Renato Machado
Atualização:

O delegado titular do 4º DP de São Paulo, Roberto Carvalho Naves, afirmou ontem que irá anexar as quase 200 fotos sobre o estado de conservação do Teatro Cultura Artística no inquérito que investiga as causas do incêndio de domingo. As imagens foram reveladas ontem no Estado e mostram fios expostos, umidade nas paredes e sinais de deterioração - a direção da Sociedade Cultura Artística não reconhece a autenticidade delas. Naves também disse que irá chamar para prestar esclarecimentos o arquiteto Anderson Leite Schmidt, autor do trabalho acadêmico sobre o prédio e responsável pelas fotos. "Como não temos informações sobre a manutenção do espaço, as fotos podem ser muito importantes para descobrir as causas do incêndio", diz o delegado. Veja imagens antigas do Cultura Artística A diretoria da Sociedade de Cultura Artística negou ontem que o teatro estava em más condições e atacou a credibilidade do trabalho. "Ele não tem seriedade nenhuma e está cheio de mentiras. As fotos não deixam claro que se trata do nosso teatro. Podem ser de qualquer outro lugar, podem ser de um dia de montagem de espetáculo, quando tudo fica um pouco desorganizado", diz o superintendente da entidade, Gérald Perret. "Usar esse material e falar que é negligência é uma grande mentira. Passamos por todas as vistorias da Prefeitura e dos bombeiros, isso sim é oficial e autêntico." Perret diz que, em nenhum momento, o trabalho de Schmidt foi oferecido para ser analisado pela entidade. Ele também contesta as informações de que os fios elétricos estariam expostos, que as portas de emergência da sala Esther Mesquita contrariavam as normas de segurança (abrindo para a parte de dentro), de que a da saída de emergência teria 80 centímetros e de que a sala menor, Rubens Sverne, não tinha rota de fuga. "Os fios elétricos não estão expostos, a manutenção sempre foi impecável, as portas abriam, sim, para fora, e a porta de emergência tinha 1,5 metro", diz Perret. Ele acrescenta que a sala menor tinha uma rota de fuga, que era a própria porta de entrada do teatro. MOSAICO A promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público abriu ontem inquérito para acompanhar os planos de reconstrução do teatro, que é tombado pelo Conselho do Patrimônio Histórico de São Paulo (Conpresp) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado (Condephaat). No dia 26 de agosto, às 14h30, a promotora Mariza Tucunduva pretende se reunir com a direção da Sociedade de Cultura Artística para esclarecimentos sobre o projeto que está sendo estudado. Ainda ontem, os técnicos do Instituto de Criminalística (IC) alertaram para o risco de desabamento do imenso mosaico de Di Cavalcanti na fachada do Teatro Cultura Artística. Com 24 metros de comprimento e 8 metros de altura, a obra do artista brasileiro não sofreu danos no incêndio na madrugada de domingo, mas ficou praticamente isolada após o colapso do restante do prédio. "Ele só está apoiado por dentro em uma pequena laje, que sofreu rupturas por causa do fogo e da queda da edificação", diz Antônio Roberto Antunes Lazaro, do Núcleo de Engenharia do IC. Lazaro diz que a estrutura pode ruir após uma chuva mais forte ou uma ventania. "Uma parede não foi feita para ficar solta. Ela precisa de um laço, de um peso que a sustente", explica o engenheiro. Em relação ao restante da edificação, ele diz que não há grandes riscos, pois a maior parte da estrutura já desabou. No entanto, ele ressalta que algumas paredes laterais, assim como a fachada, também precisam ser escoradas para evitar desabamentos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.