Governo federal deve atuar fora da operação direta na segurança pública, diz Ipea

Para pesquisador, uso das Forças Armadas sem ações integradas de inteligência torna-se 'espetáculo midiático'

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Por Vinicius Neder
Atualização:
Forças Armadas vêm sendo acionadas para operações na Rocinha e outras comunidades do Rio. Foto: Fábio Motta/Estadão

RIO DE JANEIRO - O governo federal tem um “papel nobre” a exercer nas políticas de segurança pública, mas ele passa longe da operação direta no combate ao crime. A avaliação foi feita há pouco por Daniel Cerqueira, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

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“A gente não acredita que o papel do governo federal seja operar na ponta, seja com as Forças Armadas, seja com a Força Nacional de Segurança nas ruas”, afirmou Cerqueira, organizador do número 11 do Boletim de Análise Político-Institucional do Ipea, lançado na tarde desta terça-feira, 7, no Rio.

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O exemplo óbvio foi a recente intervenção na Rocinha, maior favela da zona sul do Rio. Na visão de Cerqueira, o uso das Forças Armadas, sem ações integradas de inteligência, torna-se um “espetáculo midiático”.

“Uma semana depois, volta tudo ao que era antes, com a diferença que o uso das tropas custas R$ 1,5 milhão por dia”, disse Cerqueira.

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Para o pesquisador, a função do governo federal na segurança pública passa por três áreas: indução de boas políticas nos Estados, capacitação das forças de segurança e financiamento, com foco na indução de boas práticas.

Nos programas de treinamento e “educação profissional” de policiais, por exemplo, a formação de agentes deve se dar num “arcabouço que coloque o profissional de segurança pública não como um guerreiro, mas como um defensor de direitos”, afirmou Cerqueira.

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Na área da indução de boas práticas, o pesquisador do Ipea cita o controle externo das polícias, lembrando que as estatísticas tanto de morte de policiais quanto de assassinatos pelas forças da lei do Brasil estão entre as piores do mundo. “A polícia mata e morre muito”, disse Cerqueira.

A edição do primeiro semestre de 2017 do Boletim de Análise Político-Institucional do Ipea foi inteiramente dedicada à Política Nacional de Segurança Pública. São 11 artigos, de 12 pesquisadores, do Ipea e de outras instituições de pesquisa, sobre temas como financiamento, controle externo e governança.