Grupo de policiais civis enfrenta a PM e 24 pessoas ficam feridas

Grevistas foram barrados perto do Palácio dos Bandeirantes; foi o maior confronto da história das corporações

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Por Marcelo Godoy
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A marcha dos policiais civis em greve ao Palácio dos Bandeirantes se transformou em confronto com a Polícia Militar, o maior da história entre as duas instituições, deixando 24 feridos. O comandante do policiamento na zona oeste de São Paulo, coronel Danilo Antão Fernandes, foi atingido por um tiro. Policiais civis - armados e com viaturas - que haviam sido designados para conter a passeata se juntaram aos colegas grevistas. Um deles disparou com fuzil em direção ao Palácio. PMs da Tropa de Choque responderam com balas de borracha e de gás lacrimogêneo. Pelo menos uma dúzia de viaturas foi danificada. O governador do Estado, José Serra (PSDB), estava no Palácio e mantinha contato com o secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão. Ele acusou CUT, Força Sindical e deputados do PT e do PDT de incitarem o confronto e reafirmou que não receberá os grevistas enquanto o movimento durar. Afirmou ainda que o comando das polícias vai punir os mais exaltados. Para os policiais civis, o responsável era o governador. "Isso foi o resultado da intransigência do governo. Se tivessem recebido uma comissão de policiais antes, isso não teria ocorrido", afirmou o delegado André Dahmer, diretor da Associação dos Delegados. A marcha começou às 14 horas. Cerca de 2,5 mil policiais civis, com o apoio de sindicalistas da Força Sindical e da CUT, se reuniram na frente do Estádio do Morumbi. Os manifestantes queriam que uma comissão fosse recebida pelo governo. O Estado mantinha a posição de não negociar com os grevistas. Para enfrentar a ameaça da marcha, a cúpula da Segurança Pública mandou para o estádio cerca de 50 carros e motos de grupos operacionais da Polícia Civil. Precavido, o governo também chamou a Polícia Militar. O caminho para o Palácio estava tomado por PMs do patrulhamento da região e da Tropa de Choque. A intenção dos manifestantes era se aproximar da sede do governo pela Rua Padre Lebret. Quando a marcha começou, os delegados destacados pela Delegacia-Geral para conter os colegas se mostravam angustiados com a falta de resposta do governo sobre se alguma comissão de grevistas seria recebida. Entre os delegados não havia ninguém da cúpula da Polícia Civil - já a PM contava com o chefe do Policiamento da Capital, coronel Ailton Araújo Brandão. Naquele momento, o discurso do deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT) deixou os ânimos exaltados. Ou o governador recebia a comissão ou eles iriam até o Palácio. Os grevistas, sentados no chão, aplaudiram e gritavam: "Vamos lá, vamos lá." E se levantaram e começaram a subir a Rua Padre Lebret. Por quatro vezes, os delegados tentaram contê-los. Em vão. Às 15h40, os grevistas chegaram à primeira barreira da PM. Eram homens do 16º Batalhão. Atrás dela, havia outras duas barreiras do batalhão. Ao lado do Palácio, a última linha era do 3º Batalhão de Choque e do Regimento de Cavalaria. Às 16 horas, policiais mais exaltados forçaram o cordão da PM. Passaram pelas três barreiras. Foi quando a Tropa de Choque disparou as primeiras bombas e balas de borracha. Os policiais recuaram e tentaram nova carga. Os colegas que deviam controlá-los resolveram lutar contra os PMs. Revoltados, policiais civis agrediram o tenente Elias Profeta e depredaram viaturas militares. Escondido em um estacionamento, um investigador atirou com fuzil. O coronel Antão foi atingido no abdome por uma bala - socorrido, ele não corre riscos. De armas em punho, os civis apanharam viaturas e rumaram na direção da Tropa de Choque. Foi a terceira carga, também contida. Depois de dez minutos, sobrou apenas o bate-boca entre os policiais. Às 17 horas, o delegado-geral, Maurício Lemos Freire, ordenou que todos os policiais civis saíssem dali. Em vão. Freire também deu ordem para que ninguém mais fosse para lá. Foi ignorado pelos policiais que queriam ajudar os colegas. Só às 20h30, os civis se dispersaram. A PM permaneceu no Palácio. COLABORARAM EDUARDO REINA e BRUNO TAVARES

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