Homenagem na Câmara dos Deputados a vereadora morta vira ato contra intervenção e governo Temer

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pré-candidato à presidência da República, também foi hostilizado durante sessão solene em memória a Marielle Franco

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Por Daiene Cardoso / Brasília
Atualização:

Uma sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e ao motorista Anderson Gomes, assassinados nessa quarta-feira no Rio de Janeiro, se transformou em ato contra a intervenção federal no Estado e contra o governo Michel Temer. Ela foi presidida pelo presidente da Casa e pré-candidato à presidência da República Rodrigo Maia (DEM-RJ), que foi hostilizado durante a cerimônia.

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Com girassóis nas mãos e punhos cerrados para o alto, servidores e deputados federais fizeram nesta quinta-feira (15) na Câmara, em Brasília, um ato em homenagem à vereadora Marielle Franco Foto: Luis Macedo|Estadão

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A homenagem começou com um cortejo pelo corredor principal da Câmara, onde militantes carregavam girassóis e uma faixa com frase: "Marielle presente, Anderson presente: Transformar o luto em luta". Ao entrar no plenário, os militantes ergueram cartazes contra a intervenção militar e com fotos da vereadora.

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Militantes de esquerda ocuparam todo o plenário e, durante os discursos, não pararam de gritar palavras de ordem pedindo o fim da Polícia Militar, da intervenção na segurança pública no Rio de Janeiro, "Fora, Temer", "Fora, Maia", "Fora, Bolsonaro", "Fascistas não passarão" e "Golpistas". Líder da 'bancada da bala', o deputado Alberto Fraga (DEM-DF) também foi hostilizado no plenário.

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"Cada uma de nós, sobretudo as mulheres, nos sentimos morrendo um pouco", disse a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), que destacou o crescimento desse tipo de crime "no curso de um governo sem legitimidade". Na sequência, deputados de partidos de esquerda se revezaram ao microfone destacando a luta de Marielle a favor dos direitos humanos e sua origem de mulher pobre e negra. Também não faltaram nos discursos críticas à falta de planejamento na intervenção militar e cobranças por uma investigação célere.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) comparou a morte da vereadora aos assassinatos dos ambientalistas Dorothy Stang e Chico Mendes. "Basta aos que discursam propagando o ódio", pregou, sob os aplausos da plateia. "Os que puxam o gatilho são os que fomentam o ódio", completou. Ao contrário do discurso do deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), que foi mal recebido pelos presentes, as declarações da petista Érika Kokay (PT-DF) foram aclamadas pelo plenário. "Essa bala foi apertada pelo Parlamento deste País", disse a deputada.

Visivelmente abalado, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) também discursou. "Perdi uma companheira de luta, estamos aos pedaços, mas não vamos esquecer", disse. O deputado, apoiado pelo PT, PCdoB, PSB e PSOL, encaminhou a Maia um pedido de criação de uma comissão externa para acompanhar as investigações dos assassinatos, solicitação que foi atendida pelo presidente da Casa.

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Apesar de ter sido chamado de "golpista" em vários momentos, Maia deixou o evento minimizando as hostilidades. "Eu entendo que o importante é que o direito da manifestação está colocado, para a gente ouvir críticas e elogios com muito equilíbrio", respondeu. Durante os momentos mais tensos da cerimônia, Maia chegou a ser aconselhado por seguranças a abandonar o evento, mas fez questão de seguir no comando da sessão solene.

Maia saiu em defesa da intervenção e disse que a ação precisa de diagnóstico, de planejamento e execução para ter sucesso. "É importante que o planejamento seja transparente e claro e que o governo federal entenda que há um sucateamento da estrutura da Polícia do Rio de Janeiro. Mas eu ainda estou confiante", afirmou.

O deputado disse que a agenda de segurança pública continuará na Casa porque é uma demanda de "80% da população". Maia afirmou que a flexibilização do Estatuto do Desarmamento ainda pode demorar para entrar na pauta. "Esse é um debate sempre polêmico, com muito radicalismo dos dois lados. A minha compreensão é que se poderia ter um pouco mais de paciência, um pouco mais de restrição no direito à posse. Acho que a rigidez tinha de ser maior. Mas vamos com calma", pregou.

Maia admitiu que a execução da vereadora pode radicalizar ainda mais os debates eleitorais, mas que espera que se caminhe para o equilíbrio nas discussões sobre as soluções para o problema de segurança pública no País.

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