A reação com gestos obscenos do assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia tem o potencial de marcar negativamente a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na opinião do escritor Mário Rosa, autor de dois livros sobre gestão de crises, A Era do Escândalo e A Reputação na Velocidade do Pensamento, ambos da Geração Editorial. "Tragédias como essas produzem identificação imediata. São palha. O gesto dele é como fagulha", afirmou. Ontem, havia 19 inclusões do vídeo de Garcia no YouTube, uma das quais com 31 mil downloads. Juntos, todos ultrapassavam 50 mil acessos. No Orkut, surgiu a comunidade "Eu odeio Marco Aurélio Garcia". Para Rosa, o gesto do assessor foi a única reação emocional de uma sucessão de atitudes "racionais" do governo, todas equivocadas. "O primeiro representante oficial a conceder entrevista foi um diretor técnico (brigadeiro Jorge Kersul Filho), que falava com uma frieza impressionante. Deveria ter sido alguém do primeiro escalão", considerou Rosa. Segundo o especialista, Garcia não teve a privacidade invadida. "As pessoas não se dão conta de que a revolução tecnológica criou um novo padrão de comportamento e ética, misturando público e privado", diz. "Junte o gesto dele à aposta do governo em explicações técnicas e você terá o espectador se perguntando: ?Esse governo tratará assim também o meu luto??", pondera Rosa. Assim como o escritor, o professor emérito de filosofia política da Universidade de São Paulo José Arthur Giannotti considerou que a oposição ao governo Lula saiu na frente na politização do acidente da TAM. "Você tem uma série de erros mostrando que a política de tráfego aéreo está completamente equivocada no País e quem comanda isso é Brasília. Ora, a questão está politizada desde o início. Trata-se da falência de um sistema administrado pelo governo federal", diz. Para Giannotti, porém, é cedo para afirmar que o governo Lula será marcado pelo apagão aéreo. O gesto obsceno de Garcia também será relativizado. "Dependerá da elegância das pessoas", considerou o professor. Rosa discorda. "A rainha Maria Antonieta ficou marcada com a frase dos brioches, o ex-presidente João Figueiredo pela do cheiro dos cavalos, que, para ele, era melhor do que o do povo. Ora, não há como subestimar o potencial disso", afirma. "Garcia ignorou a revolução tecnológica. Sua história é prima da protagonizada pela modelo Daniela Cicarelli. No passado, transar em uma parte deserta da praia poderia ser considerado privado, hoje não mais", analisa Rosa.