INB diz que informou prefeitura 'por telefone' sobre urânio

Empresa realizou duas inspeções, mas os resultados das coletas só foram enviados oficialmente a Lagoa Real sete meses depois

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Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA - A estatal federal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) declarou nesta segunda-feira, 24, que, por meio de um telefonema, informou à prefeitura do município que havia encontrado água contaminada com alto teor de urânio na zona rural de Lagoa Real, na Bahia. A empresa não informou em que data a ligação teria ocorrido, mas afirmou que o aviso sobre o "resultado preliminar" de sua perícia foi repassado por telefone ao secretário de Infraestrutura de Lagoa Real, Rosalvo Alves de Oliveira.

A empresa realizou duas inspeções no sítio de Osvaldo Antonio de Jesus. A primeira checagem foi feita em outubro de 2014, e a segunda, em março de 2015. Os resultados dessas coletas, no entanto, só foram enviados oficialmente à prefeitura de Lagoa Real no dia 22 de maio de maio, sete meses depois. Até essa data, segundo o secretário de meio ambiente de Lagoa Real, Willike Fernandes Moreira, a prefeitura sequer tinha conhecimento de que o poço existia. "A prefeitura não sabia de nada, não sabia nem que tinham aberto o poço", disse.

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Na última quinta-feira, a reportagem questionou a INB sobre as causas da demora da empresa em informar às autoridades competentes que de que havia encontrado água contaminada. A empresa não se posicionou sobre o assunto. 

Na tarde desta segunda, a INB informou que fez uma ligação telefônica para a prefeitura e que este telefonema teria ocorrido entre as duas análises de água realizadas pela empresa. A reportagem procurou o secretário de Infraestrutura de Lagoa Real, Rosalvo Alves de Oliveira, mas não obteve retorno até a manhã desta terça.

Por meio de nota, a INB afirmou que, depois da primeira coleta de água, feita no fim do período de seca, "aguardou o término do período chuvoso para realizar a segunda coleta de águas para análise, que ocorreu em março de 2015, como uma maneira de verificar a influência da sazonalidade nos resultados". 

"Mesmo antes de fazer a segunda coleta de água para confirmar o resultado, a INB informou pessoalmente ao Sr. Osvaldo e, por telefone, ao secretário de Infraestrutura de Lagoa Real, Rosalvo Alves de Oliveira, o resultado preliminar", declarou. 

Segundo a INB, após a obtenção do resultado da segunda coleta, "este foi imediatamente informado", sendo o boletim de análise entregue formalmente em maio de 2015. "Na ocasião, por não fazer parte do Programa de Monitoração Ambiental, os resultados da análise não foram comunicados ao Ibama."

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Neste ano, conforme informado pelo Estado, a INB publicou comunicado oficial garantindo que, em todas as inspeções de água realizadas ao longo de 2014, não encontrou nenhuma situação em que a quantidade de urânio na água estivesse acima do limite estabelecido como seguro pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para o consumo humano.

As duas análises do poço, segundo a empresa, foram feitas a pedido do dono do reservatório, Osvaldo Antonio de Jesus, como parte de ações de um programa para "manter um bom relacionamento e proximidade com a população local". A empresa declarou ainda que a fiscalização rotineira da água realizada na comunidade de Varginha refere-se a uma vila localizada no município de Caetité, e não a uma vila homônima de Lagoa Real, local onde está o poço contaminado.

Depois de afirmar que o poço contaminado havia sido aberto pelo próprio dono, Antonio de Jesus, a INB declarou nesta segunda que, na realidade, o reservatório foi aberto pela Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento da Bahia (Cerb), conforme já havia sido informado pela reportagem no sábado.

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Para atestar que a mineração do urânio feita pela estatal no município vizinho de Caetité não teria nenhuma influência sobre a contaminação, a INB alegou que a comunidade onde está poço contaminado está localizada numa sub-bacia hidrográfica (Sub-Bacia do Rio São Pedro) diferente daquela onde se situa a unidade da empresa (a Sub-Bacia do Riacho das Vacas). "Por este motivo, o poço do Sr. Osvaldo não está sujeito à influência de suas atividades e não está contemplado no Programa de Monitoração Ambiental da INB, aprovado e fiscalizado pelo Ibama e pela Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear)."

Com 90 metros de profundidade, o poço contaminado foi aberto em fevereiro de 2013. Diversos sítios vizinhos, com poços exatamente iguais, vinham sendo utilizados diariamente pela população, sem nenhum tipo de inspeção ou alerta, mesmo após a INB entregar os resultados do reservatório contaminado, em maio.

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