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Injeção de arte leva novos ares ao centro de São Paulo

Projeto da Prefeitura pretende chamar atenção para uma parte esquecida da capital e garantir acesso à cultura ao público que não freqüenta galerias

Por Agencia Estado
Atualização:

Um bar do tipo sujinho, freqüentado por travestis, traficantes e prostitutas, vai ganhar a partir das 20h30 desta sexta-feira, 2, uma inédita exposição de arte. Local pouco usual para virar galeria, o Vieira Chic, na Rua Vieira de Carvalho, foi escolhido justamente por fazer parte de uma região degradada do centro. E abrirá, com a mostra batizada de Trevas, o projeto Intervenções. Patrocinado pela Secretaria Municipal de Cultura e a Subprefeitura da Sé, ele pretende chamar a atenção para uma parte esquecida do centro de São Paulo, além de dar novos ares à redondeza. "Queremos levar um pouco de arte a um público que não freqüenta galerias nem tem acesso à cultura", afirma o curador, Marcelo Kahns. O artista plástico curitibano Marcelo Paciornik, de 36 anos, passou várias noites sentado num das mesas do Vieira Chic, observando a atmosfera. Com um MP3, um caderno de desenho e material de pintura, ele reproduziu o que viu e sentiu durante as madrugadas que ficou por ali. O resultado foi o livro Trevas, recheado com desenhos com expressões sombrias e nebulosas como num pesadelo. Crucifixo, objetos cortantes e rostos que mais parecem espectros são algumas das figuras recorrentes. "Eu retratei o submundo, que apesar de ser muito atraente é pesado", explicou o artista. Show de slides No bar serão pendurados quadros feitos a partir da reprodução fotográfica do livro. Haverá também um show de slides de meia hora, embalado pelo som eletrônico de bandas como Front 242 e do pop rock do Sisters of Mercy. A exposição de Pacionirk fica no bar até domingo. Depois deve migrar para a passagem subterrânea da Rua da Consolação, Cerqueira César. Trevas é apenas a primeira parte do projeto. A próxima intervenção ocorre em março no Parque D. Pedro. E quem coloca a criatividade em cena é a estilista Renata Mellão, diretora do museu A Casa, que tem o objetivo de contribuir para a valorização e reconhecimento do design e artesanato brasileiro. Ela pretende construir dois semicírculos de bambus com aproximadamente cinco metros de altura, dispostos de forma que tracem um caminho cercado dentro do parque. "As pessoas poderão andar pela trilha formada pelos bambus, que vão se movimentar de acordo com o vento", explicou Renata. O envolvimento da comunidade com a obra começa antes mesmo da estrutura estar pronta. "Sempre que toco um projeto num lugar público, as pessoas do bairro acabam espontaneamente ajudando na construção", disse ela. Paralelamente, Renata monta outra intervenção na Praça Dom José Gaspar, uma área ajardinada localizada atrás da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, na esquina da Rua da Consolação com a Avenida São Luís, também no centro. "A idéia é construir uma pulseira com lentes de aumento para uma das árvores da praça. Cada um dos cristais desvenda um ambiente microscópico da planta imperceptível a olho nu." Design brasileiro A última parte do projeto, prevista para o segundo semestre, terá a participação dos Irmãos Campana, atualmente uma grife do design brasileiro. Reconhecida internacionalmente, a dupla Fernando e Humberto Campana são os únicos brasileiros com peças no acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa), nos Estados Unidos. Mesmo depois da fama os designers mantiveram o ateliê num galpão do bairro de Santa Cecília. Agora pretendem espalhar alguns de seus mobiliários pelas lojas de móveis usados da Rua Amaral Gurgel, no centro. O terminal de ônibus da região também pode ganhar alguns assentos assinados pelos Campana. Será o primeiro terminal com design internacional.

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