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‘Integrar-se a facção acaba sendo uma espécie de estratégia de sobrevivência’, diz Amazonas

Governo diz que presos são intimidados a integrar facções como a Família do Norte, mas que vem atacando o tráfico de drogas, principal fonte de renda das organizações criminosas

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Por Marco Antônio Carvalho
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MANAUS - O governo do Amazonas disse em resposta a questionamentos do Estado parte da força da Família do Norte (FDN) vem da intimidação que os seus integrantes realizam contra outros presos. “A violência é, justamente, o maior mecanismo de dominância dessas facções, dentro e fora dos presídios. Devido ao tamanho que a FDN possui, o preso sabe que se desobedecer, corre risco de morte. Então se integrar a uma facção acaba sendo uma espécie de estratégia de sobrevivência”, diz a administração do governador Amazonino Mendes (PDT).

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A gestão, que assumiu o governo em outubro deste ano após a cassação do mandato de José Melo (PROS), diz que tem atacado o crime organizado de diversas formas. “Estamos atacando a principal fonte de renda do crime e das facções que é o tráfico e procurando aplicar o rigor da lei para colocar os criminosos na cadeia. Neste ano de 2017, o Amazonas apreendeu 13 toneladas de entorpecentes, entre cocaína e maconha, é o maior volume de drogas apreendidas da história”, informa. 

Sobre a situação do Compaj, listou uma série de mudanças, como recuperação das áreas destruídas e o reforço no sistema de monitoramento, possibilitando “pronta-resposta em casos de anormalidade detectada”. “A Polícia Civil conduziu as investigações sobre os envolvidos no massacre, com o inquérito concluído, o MPE denunciou 213 pessoas suspeitas de envolvimento com o massacre. Os 17 presos apontados como líderes do massacre foram transferidos para presídios federais, onde permanecem.”

Por fim, disse ter iniciado processo de licitação de obras de novos presídios em Manacapuru, Parintins e Tefé. “A projeção do Governo é construir mais cinco unidades no interior que, assim como as quatro já em licitação, funcionarão como cadeias-polo, evitando a transferência de presos para Manaus e a manutenção de carceragens em delegacias.”

'Seria utopia falar que não vai morrer mais ninguém', diz secretário de Roraima

O secretário-adjunto de Justiça do Estado de Roraima, o capitão PM Diego Bezerra, disse esperar melhorias significativas no sistema penitenciário ao longo do ano de 2018. Na sua sala na sede da secretaria, vizinha à Cadeia Pública de Boa Vista, Bezerra elenca os motivos que o levam a ter esperanças para o ano que vem: reforma da Penitenciária Agrícola Monte Cristo, retomada da construção da penitenciária de Rorainópolis, construção de um novo presídio nas proximidades da Monte Cristo e reforma do anexo da Cadeia Pública. Tudo isso, conta, deverá reduzir o déficit hoje existente de 1,2 mil vagas. O Estado tem um total de 2,7 mil presos.

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Ao longo de 2017, as medidas tomadas consistiram em separar as facções, retirando os inimigos do PCC da Monte Cristo. “Hoje, não temos grupos opositores na mesma unidade prisional. Isso facilita o controle e diminui a possibilidade de um novo massacre”, diz.

Ele atribui os problemas que persistem na Monte Cristo a “mais de 20 anos de descaso, abandono e falta de investimento na área”. “Não é da noite para o dia que se resolve esse problema”. Sobre a demora em fazer tramitar os convênios com o governo federal para reforma e construção de cadeias, Bezerra diz que “ninguém constroi um presídio da noite para o dia”. “É algo que demora e temos de respeitar o trâmite.”

Questionado sobre os rumores de preparação para um novo massacre, conforme relatado ao Estado por parentes de presos e um agente penitenciário que trabalha no presídio, o capitão disse que acreditar que as mortes não se repetirão. “É claro que mortes em presídios vão acontecer, aqui em Roraima, como no Amazonas, em São Paulo, nos Estados Unidos. E as mortes vão continuar acontecendo porque infelizmente elas acontecem e acontecem em qualquer lugar do mundo. Seria uma utopia falar que não vai morrer mais ninguém. Vai morrer em Roraima, no Rio, nos Estados Unidos, no Canadá”, diz.

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