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Itamaraty: comitê para avaliar candidatos não evita fraudes, diz MPF

Petição solicita urgência na apreciação da ação que busca impedir posse de brancos suspeitos de se declararem negros

Por Luísa Martins
Atualização:
Itamaraty, em Brasília Foto: Dida Sampaio/ Estadão

BRASÍLIA - A banca instituída para avaliar os traços físicos dos candidatos beneficiados pelas cotas no concurso para diplomatas, do Itamaraty, não será suficiente para afastar as hipóteses de fraude, avaliou o Ministério Público Federal (MPF). O Estado apurou que há possibilidade de os procuradores recomendarem que o comitê atue, nesta quinta-feira, 10, em sessão pública - e não de portas fechadas.

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Uma petição foi enviada à Justiça Federal nesta quarta, solicitando urgência na apreciação da ação civil pública, protocolada segunda, que busca impedir a posse de cinco candidatos brancos suspeitos de se declararem negros para avançar mais facilmente na seleção. 

Poucas horas depois de o MPF entrar com a ação - da qual são réus os cinco concorrentes e a União -, o Itamaraty publicou edital que convoca os candidatos beneficiados pelas cotas (em qualquer etapa do concurso) a confirmarem a opção presencialmente, assinando a autodeclaração perante o Comitê Gestor de Gênero e Raça (CGGR). Com base nas feições visíveis dos concorrentes, essa banca elabora um parecer à organização do concurso. "Casos de dúvidas ou suspeição de fraude serão encaminhados às autoridades competentes", diz o documento.

Porém, o MPF considerou que o edital é inconsistente e que seus termos não exatamente coíbem a posse dos suspeitos. Na petição, sustentam que "a possibilidade de eliminação dos candidatos só é expressamente prevista para os casos de 'não comparecimento ou a não assinatura da declaração', mas não é prevista para o caso de fraude". Três dos suspeitos ocupam as vagas reservadas; os outros dois alcançaram nota suficiente para se enquadrarem entre os aprovados pela ampla concorrência.

Mesmo com a instituição do comitê de verificação (algo que, antes, não constava em edital, motivando denúncias de ONGs e cidadãos), a ação foi mantida. Às 16h07min desta quarta, os trâmites do processo indicavam que os documentos já estavam com a juíza Adverci Mendes de Abreu, da 20ª Vara Federal, mas nenhuma decisão havia sido divulgada até as 21h. 

O presidente da ONG Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro), Frei David, questiona a efetividade do comitê, formado por sete diplomatas, sem qualquer participação da sociedade civil. "O edital deixa evidenciado que o embaixador responsável pelo concurso tomará a decisão que ele quiser. A comissão corre perigo de ser apenas decorativa, o que é péssimo para as ações afirmativas", critica.

Segundo o Itamaraty, o CGGR existe desde setembro de 2014 e é integrado por homens e mulheres, brancos e negros. O MRE confirma que, para o caso de haver eliminações, foram convocadas 12 pessoas para a autodeclaração presencial, um número duas vezes maior que o de vagas reservadas para negros e pardos. No entanto, preferiram não se pronunciar sobre outras questões relativas ao certame, limitando-se a dizer que "cumprirão a lei."

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