Jornalista Flávio de Carvalho Serpa morre aos 66 anos em Belo Horizonte

Ex-editor do caderno de Informática do Estado sofria de doença pulmonar obstrutiva crônica

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Por Redação
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O jornalista Flávio de Carvalho Serpa morreu na madrugada desta segunda-feira, 23, aos 66 anos, em consequência de doença pulmonar obstrutiva crônica, no hospital Mater Dei, de Belo Horizonte, onde estava internado desde o início de janeiro. Nascido na capital mineira, Flávio se formou em Física pela UFMG em 1972. Nunca exerceu a profissão, mas fez bom uso de seu conhecimentos, pois, como jornalista, foi nas áreas de ciência e tecnologia que ele se especializou, vindo a tornar-se nelas uma indiscutível referência.  “Se nós perdemos um grande amigo, os jornalistas de ciência perderam um mentor, um pioneiro que desbravou essa área e ensinou a todos nós que escrever sobre ciência é uma paixão”, lamentou nesta segunda, falando por muitos, sua colega e amiga Martha San Juan França.

Tecnologia.Foi editor de 'Informática' do 'Estado' até 2004 Foto: Arquivo pessoal

Flávio de Carvalho teve participação ativa na luta contra a ditadura militar e integrou o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMG, em 1972 e 1973, a gestão que ajudou a reorganizar a esquerda em Minas Gerais, no governo do general Garrastazu Médici. Editou o jornal da entidade, o Gol a Gol, com linguagem inovadora e provocativa. Participou também da criação de uma série de cartazes impressos, de crítica às limitações da universidade naquela época, banidos pela reitoria, que proibiu sua afixação e ordenou a retirada.  A entrada de Flávio na imprensa se deu, aos 24 anos, pelo jornal Opinião, do qual foi editor de Internacional de 1972 a 1976, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, para onde se mudou em meados da década de 1970, trabalhou sucessivamente no jornal Movimento e nas revistas Veja, IstoÉ e Info Exame.  Foi subeditor de Ciência de 1986 a 1993. Editou o caderno de Informática do Estado de 1993 a julho de 2004, e também colaborador de diversas publicações, entre elas a Folha de S.Paulo e as revistas Scientific American, Superinteressante, Galileu e Retrato do Brasil. Leitor voraz de livros de ciência, era capaz, como poucos jornalistas, de decifrar assuntos cabeludos de Física ou de outros temas complexos e chegava a ser chamado, por outros jornalistas de ciência, de “o homem mais inteligente do mundo”. Era um misto de gracejo com admiração. Mas Flávio nem ligava, e acabava encantando seus ouvintes com alguma piada. No domingo, o colunista do Estado Humberto Werneck escreveu sobre o amigo torcendo por sua melhora. Para ele, Flávio era “fonte de conhecimentos úteis como também de bizarrias e esquisitices garimpadas no noticiário”.  Explicou: “o Flávio me aprovisionava de pérolas daquilo que, numa analogia com a gordura condenada pelos médicos e nutricionistas, podemos chamar de ‘cultura trans’, ou seja, a massa de conhecimentos sem serventia capaz de saturar nossos miolos, ocupando o espaço de conhecimentos úteis”.  Discreto e generoso, rigoroso e bem humorado, Flávio de Carvalho, homem de poucas palavras e muitas atenções, “foi um companheiro inteligente, irônico, sutil, pacato, tranquilo, sabido, versátil”, disse o filósofo José Crisóstomo de Souza, que com ele conviveu.  “Idealista com bom humor e sem dogma. Um papo pra toda especulação interessante e bem fundada. Com suas falas breves, que não atropelavam ninguém. Sabidamente, um sucesso com as moças. Bonito, o Flávio. E um romântico.”

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