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Lavagem do Bonfim recebe título de Patrimônio Imaterial Nacional

Evento, que será realizado nesta quinta-feira, 16, remete à limpeza realizada na basílica para festa em louvor ao Senhor do Bonfim; este ano festa também terá cortejo católico

Por Tiago Décimo
Atualização:

Um dia antes de sua realização, a Festa do Senhor do Bonfim, conhecida como Lavagem do Bonfim, cortejo multirreligioso que leva mais de 1 milhão de pessoas para a Cidade Baixa de Salvador, em uma tradição iniciada em 1773, recebeu, na manhã desta quarta-feira, 15, o título de Patrimônio Imaterial Nacional.

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"O reconhecimento traz para o Estado a obrigação de estar junto da comunidade para garantir a manutenção da realização do evento", explica a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Jurema Machado. O registro da festa como patrimônio cultural havia sido aprovado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan em junho.

A concessão do título foi marcada por uma missa, na Basílica Santuário Senhor Bom Jesus do Bonfim, que reuniu a ministra da Cultura, Marta Suplicy (PT), a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), e o prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM).

"É um reconhecimento da importância histórica do evento, que é uma manifestação autêntica do povo baiano e um espaço de não-discriminação absoluta", avalia a ministra, que participará do cortejo. "A Lavagem do Bonfim é um símbolo do congraçamento de todas as fés, da democracia." Segundo o governador, o título "coloca a fé do povo baiano no lugar que merece".

História. A lavagem remete à limpeza que era realizada na basílica para a festa em louvor ao Senhor do Bonfim, celebração católica que ocorre em Salvador desde o século 18, no segundo domingo após a Festa de Reis. Para que a comemoração fosse realizada, os organizadores convocavam os escravos para realizar a lavagem da igreja na quinta-feira anterior ao evento.

Adeptos das religiões de matriz africana, os escravos começaram a fazer da lavagem uma festa própria, dando início à tradição. Até hoje, é um bloco de centenas de baianas com trajes típicos que puxa o cortejo de oito quilômetros, entre a Basílica Nossa Senhora da Conceição da Praia e a igreja do Bonfim.

Este ano, a festa que se realiza nesta quinta-feira terá novidades. A principal é que pela primeira vez um cortejo católico será realizado, com saída programada para as 8 horas, duas horas antes da caminhada tradicional. Cerca de 2,2 mil policiais farão a segurança da festa.

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Fitinhas baianas. Outra novidade do cortejo deste ano é que os fiéis poderão encontrar, nas imediações da basílica, fitinhas do Bonfim fabricadas na Bahia. Após mais de duas décadas sendo produzidas em Sumaré, no interior paulista, as recordações voltaram a ser produzidas em Salvador no fim do ano passado, pela Cooperativa de Produtores de Artigos Religiosos e Culturais (Cooparc).

Segundo a direção da cooperativa, porém, a produção ainda não é capaz de atender a toda a demanda pelo produto - motivo pelo qual a maior parte das fitas encontradas ainda é a fabricada em São Paulo.

O preço das duas é o mesmo, por volta de R$ 1. Elas, porém, são diferentes. A baiana segue o modelo tradicional, que teve fabricação iniciada no fim do século 18. É branca - tem apenas as inscrições coloridas -, fabricada artesanalmente, em algodão, e mede 47 centímetros (o tamanho do braço direito da imagem de Jesus Cristo crucificado instalada no altar da basílica). A produção desse modelo pela cooperativa é de cerca de 5 mil fitas por dia.

Na versão paulista, a fita pode ser encontrada em diversas cores, feita em poliéster (demora o dobro de tempo para se desfazer, na comparação com o algodão) e tem 43 centímetros. A produção industrial, a cargo da empresa Fita Têxtil, chega a 100 mil unidades diárias.

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