'Levei guris com rostos pretos'

Taxista foi um dos voluntários que levou 13 jovens para hospitais, mas nunca encontrou ninguém que ajudou

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Por Diego Zanchetta
Atualização:

Na madrugada da tragédia, o taxista Carlos Adriano Matias, de 41 anos, vez 11 viagens entre a boate Kiss e hospitais de Santa Maria. "Levei guris que estavam inteiros queimados, com o rosto preto e deformado. Parecia que o rosto tinha derretido mesmo. Deixava eles no hospital sem saber se estavam vivos e voltava para pegar outros", recorda Matias, que nunca encontrou algum sobrevivente que ajudou a ter socorrido. "Nem conseguiria reconhecer, todos estavam pretos, cobertos de fumaça. Levei 13 guris para os hospitais."O ponto de táxi na frente da Kiss era o mais movimentado na noite de Santa Maria. Quem trabalha no ramo sabia que em noite de festa na boate, localizada bem no centro da cidade, era dia de garantir o dinheiro quase da semana toda.Com a falta de ambulâncias no dia da tragédia, muitos dos 42 sobreviventes que hoje estão sob tratamento médico foram socorridos e levados a hospitais por taxistas daquele ponto. Outros moradores da cidade - motoristas que até agora seguem anônimos - correram para a Rua dos Andradas naquela madrugada, na tentativa de suprir a falta de ambulâncias e de bombeiros. "Nem se todas as equipes de salvamento do Rio Grande do Sul estivessem ali seria suficiente. Depois que a fumaça tomou conta da boate, ninguém mais conseguia entrar de volta. Quem voltou morreu", recorda Matias, que ajudou no socorro às vítimas até as 6 horas, quando começou a clarear. "Não havia mais o que fazer. Não havia nem sacos para cobrir o tanto de corpos que eram tirados de dentro da boate quando a fumaça abaixou."Esperança. Matias espera que em 2014 a noite em Santa Maria volte a ficar movimentada, como era antes tragédia do ano passado. A cidade tem uma população universitária estimada em 30 mil jovens."Esse incêndio acabou com a noite de Santa Maria. Não tem mais festas, muitas casas noturnas fecharam. Os alunos não estão alegres, dá pra ver quando carrego eles. Vamos ver se na volta dessas férias as coisas vão melhorar por aqui", espera Matias.

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