Lula teme que ''faxina'' deixe Dilma dependente do PMDB

Em viagens pelo País, ex-presidente conversa com aliados para conter tensão na base, sobretudo no PR, com demissões no setor

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Por Vera Rosa
Atualização:

Empenhado em domar até mesmo o PT para dar "tranquilidade" ao governo de Dilma Rousseff durante a "faxina" no Ministério dos Transportes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está articulando conversas pelo País para pacificar a base aliada. Nos últimos dias, Lula recebeu telefonemas de políticos do PR, que reclamaram do método empregado pela Dilma para fazer demissões no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e na Valec, empresa que cuida das ferrovias.Aos mais íntimos, o ex-presidente não escondeu a preocupação com os desdobramentos das demissões que atingiram o PR, na esteira de um escândalo envolvendo cobrança de propina e superfaturamento de obras em rodovias. O receio de Lula e também do PT é de que Dilma fique muito mais dependente do PMDB no Congresso, de agora em diante, se não agir para repactuar os insatisfeitos. Por esse raciocínio, a "fatura" cobrada pelo PMDB, que também perdeu cargos na composição do governo, pode ser muito alta.Agora, ministros próximos de Lula se movimentam para que o diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot - afastado em meio às denúncias - ganhe outra cadeira no governo. Pagot saiu de férias logo que estourou o escândalo e, apesar de ser considerado um "homem bomba", combinou com os articuladores políticos do Palácio do Planalto que não jogaria mais lenha na fogueira ao depor na Câmara e no Senado. Cumpriu o prometido, mas Dilma já disse que ele não retornará ao posto.Ministros do PT recomendam, no entanto, que o Planalto promova a "reabilitação moral" de Pagot, se nada for provado contra o diretor afastado do Dnit. "A honra das pessoas não pode ser jogada assim ao mar", disse um desses ministros ao Estado.Ajudante. Apesar de se definir como mero "ajudante" de Dilma, Lula tem atuado como conselheiro e também age em favor da repactuação. No seu diagnóstico, exposto em conversas privadas, a sucessora está certa ao demitir quando há provas consistentes, mas não deve tomar decisões de afogadilho, para não ter de recuar depois. Sem entrar no mérito das denúncias nos Transportes - muitas delas referentes a inquéritos abertos pela Polícia Federal e pelo Ministério Público em seu governo -, Lula avalia que algumas acusações mascaram disputas políticas.Nos encontros a portas fechadas com petistas, nos últimos dias, o ex-presidente pediu apoio a Dilma e o fim das brigas por cargos. "Nós temos que dar tranquilidade à nossa companheira", insistiu ele. "Se estivermos unidos, a chance de atravessarmos o mar com maré calma é maior." Para o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), não há crise à vista nem risco à governabilidade. "O PR é um bom aliado, de longa data. Não será um ajuste administrativo que criará rompimento", afirmou Vaccarezza, repetindo palavras de Dilma. "Estão tentando criar uma crise onde não tem.Não acredito que deputados e senadores queiram que o governo não funcione. Se for assim, na primeira eleição perderemos", constatou a presidente.Nas fileiras do PR, no entanto, o discurso é de indignação. "Para haver um casamento, os dois têm que querer. Não se pode querer quem não nos quer", filosofou o deputado Luciano Castro (PP-RR).Cauteloso, o senador Walter Pinheiro (PT-BA) procura dissipar as desconfianças, sob o argumento de que tudo entrará nos eixos após o recesso parlamentar. "O PT não pode e não vai reivindicar nenhum desses espaços vagos no setor de transportes", avisou Pinheiro (PT-BA).Se Dilma não está mesmo preocupada com a retaliações, os petistas já programaram até reuniões para discutir o assunto. Tudo na volta das férias.

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