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Madrasta disse preferir 'apodrecer na cadeia' a conviver com Bernardo

Áudio de briga entre os dois foi encaminhado pela polícia à Justiça; pai se limita a pequenas intervenções e repreende o filho

Por Elder Ogliari
Atualização:

Atualizada às 21h23

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PORTO ALEGRE - A enfermeira Graciele Ugulini, madrasta do menino Bernardo Boldrini, de 11 anos, chegou a dizer que o garoto não sabia do que seria capaz, durante briga há um ano. O áudio, encaminhado pela polícia à Justiça na semana passada, foi obtido pela RBS e divulgado nesta quarta-feira por veículos do grupo (Gaúcha, RBS TV e jornal Zero Hora).

Graciele e o pai de Bernardo, o médico Leandro Boldrini, além da assistente social Edelvânia Wirganovicz e do motorista Evandro Wirganovicz, são réus do processo, apontados pela polícia e pelo Ministério Público como participantes do assassinato do garoto. Todos estão presos. No dia 4 de abril, Bernardo acompanhou Graciele em viagem de Três Passos a Frederico Westphalen e não voltou para casa. A polícia e o Ministério Público acusaram Boldrini de ser o mentor e Graciele de ser a executora do homicídio, com ajuda de Edelvânia. 

Amigos prestaram homenagem ao menino Bernardo nesta terça-feira Foto: Mauro Vieira/Agência RBS

A discussão, apagada do celular do médico, foi recuperada pelos peritos. O advogado de Boldrini, Jader Marques, admitiu, ao sair de audiência para tomada de depoimentos de testemunhas, anteontem, que as cenas mostram a péssima relação familiar, mas não estabelecem nenhuma relação com o crime. 

A defesa de Graciele não comentou o assunto. O advogado Marlon Taborda, representante da avó materna, disse que o áudio mostra que Bernardo “vivia um tormento dentro de casa”. O vídeo tem cenas gravadas dentro da casa da família, em Três Passos, no noroeste do Rio Grande do Sul. A polícia supõe que, ao captar a cena, no aparelho do marido, a madrasta quisesse registrar a agressividade do garoto. 

Socorro. Inicialmente, Bernardo grita por socorro. Na sequência, diante da pergunta do pai sobre “quem começou a bagunça”, responde “vocês me agrediram, tu me agrediu”, dirigindo-se a Graciele. “E vou agredir mais; a próxima vez que tu abrir a boca para falar de mim, eu vou agredir mais”, ameaça a enfermeira. O pai intervém de novo para repreender o filho: “Xingando ela. Ninguém merece ser xingado, não é, rapaz?”

A briga prossegue com bate-boca entre o garoto, que continua reclamando de agressões, e a madrasta, que aumenta o tom das ameaças. “Eu não tenho nada a perder, Bernardo. Tu não sabe do que eu sou capaz. Eu prefiro apodrecer na cadeia do que ficar vivendo nesta casa contigo incomodando. Tu não sabe do que eu sou capaz.”

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“Eu queria que tu morresse”, rebate o garoto. “Nós vamos ver quem tem mais força, vamos ver quem vai para baixo da terra primeiro”, diz a madrasta. Outras cenas mostram movimentação na casa com a chegada da polícia e Bernardo grogue, aparentemente sob efeito de um medicamento. A delegada Caroline Bamberg sustenta que o vídeo demonstra o comportamento omisso do médico e os maus-tratos impostos à criança pelo casal. 

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