Plenário. Interrupção de gravidez tem cinco tipificações; pena para a mulher é de 3 anos Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO
BRASÍLIA - Na contramão da decisão tomada pela 1.ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) na terça-feira, 29, a maior parte dos projetos de lei que tramitam atualmente no Congresso Nacional sobre o aborto pretende endurecer a pena para a conduta e até torná-la crime hediondo. Na Câmara dos Deputados, 36 propostas têm tramitação ativa e poderão ser usadas nas discussões da recém-criada comissão especial que pretende analisar a legislação sobre o assunto.
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Na terça, a 1.ª Turma do Supremo abriu precedente ao entender que a interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação não é crime. A posição dos magistrados recebeu resposta ainda na madrugada de quarta do presidente da Camara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que anunciou a criação de uma comissão especial. Os líderes já começaram a indicar os integrantes do colegiado e a expectativa é de que os trabalhos tenham início neste ano.
A Casa tem textos sobre o tema que datam de 1998 - sete foram sugeridos neste ano -, de dez partidos, a partir de representantes de dez Estados; 19 deles tramitam em conjunto e o mesmo número pretende agir para endurecer a punição. Entre as propostas, cinco querem que a interrupção passe a ser considerada crime hediondo, com aumento de pena. Uma dessas é de autoria do ex-presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Veja 20 personalidades no Brasil e no mundo que fizeram aborto
1 / 20Veja 20 personalidades no Brasil e no mundo que fizeram aborto
Astrid Fontenelle
Personalidades nacionais e internacionais deram entrevistas nos últimos anos a programas de TV, revistas e jornais contando experiências pessoais de i... Foto: DivulgaçãoMais
Soninha Francine
A ex-vereadora de São Paulo pelo PT, que ficou conhecida como VJ da MTV na década de 1990, é contrária ao aborto mesmo tendo realizado um. Em entrevis... Foto: EstadãoMais
Luiza Brunet
Na biografia lançada em 2014, a atriz contou que já fez dois abortos. O primeiro, aos 17 anos, se deu porque ela queria focar na carreira e se achava ... Foto: Filipe Araújo/EstadãoMais
Whoopi Goldberg
Em um programa de televisão, a atriz americana contou sobre as vezes em que interrompeu a gravidez. Ela exigiu respeito às mulheres que passam pela ex... Foto: Danny Moloshok/ReutersMais
Débora Bloch
Mãe daJulia e Hugo, a atriz falou pela primeira vez no ano passado em entrevista à revista Marie Claire sobre o aborto que fez. Débora tinha 20 anos q... Foto: Marcos de Paula/EstadãoMais
Cissa Guimarães
A atriz também participou da edição de 1997 da revistaVeja, assim como Hebe, admitindo ter feito o procedimento. Em entrevista ao jornalFolha de S.Pau... Foto: Divulgação/GloboMais
Hebe Camargo
Capa da revistaVejaem 1997, edição que tratava sobre o aborto, a apresentadora de TV Hebe Camargo contou que, aos 18, teve a primeira relação sexual e... Foto: Clayton de Souza/AEMais
Marília Gabriela
A jornalista e apresentadora também admitiu ter feito aborto na edição da revistaVejade 1997, estampando a capa. Há dois anos, ela aderiu à campanha d... Foto: Leonardo Soares/AEMais
Sharon Osbourne
A esposa do roqueiro Ozzy Osbourne fez um aborto aos 17 anos e disse que foi o maior erro da sua vida. Após o procedimento, ela sofreu três abortos es... Foto: VALERIE MACON/AFP/Getty ImagesMais
Dercy Gonçalves
A atriz disse na biografia "Dercy de Cabo a Rabo" (1994) que interrompeu a gravidez oito vezes. Ela teve uma filha, Maria Dercimar. Conhecida por ter ... Foto: Acervo Câmara Municipal de São PauloMais
Sônia Braga
No primeiro aborto que fez, Sônia tinha 17 anos, conforme contou à Revista Elle em edição de agosto deste ano. A atriz disse ainda ter recorrido ao pr... Foto: DivulgaçãoMais
Zezé Polessa
Em maio deste ano, a atriz revelou à revista Quem que abortou durante a faculdade de Medicina. Ela havia contraído rubéola na época e decidiu interrom... Foto: Divulgação/TV GloboMais
Cássia Kiss
A atriz Cássia Kiss fez um aborto na década de 1980 seguindo indicação de um casal de amigos. Ela fala sobre a experiência para a Revista Época: “Era... Foto: Divulgação/TV GloboMais
Penélope Nova
A apresentador disse à revista TPM, em 2005, que realizou dois abortos: aos 15 e aos 26 anos. Na primeira vez, ela recorreu ao procedimento aos cinco ... Foto: MTV/DivulgaçãoMais
Sinead O'Connor
A cantora fez um aborto nos anos 1990, sem apoio do namorado na época. Sinead disse que ficou feliz ao descobrir a gravidez, mas o relacionamento com ... Foto: FRED TANNEAU/AFP/Getty ImagesMais
Maitê Proença
Hoje favorável à legalização do aborto, a atriz fez o procedimento aos 16 anos. Em 2008, declarou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo: "Sou a fa... Foto: DivulgaçãoMais
Nicki Minaj
Em uma edição da revista Rolling Stone de 2014, a cantor falou sobre o aborto que fez quando adolescente. "Pensei que ia morrer. Foi a coisa mais difí... Foto: REUTERS/Carlo AllegriMais
Elba Ramalho
A cantora tinha 22 anos quando recorreu ao aborto. Hoje é contrária à legalização. Ela também esteve entre as que estamparam a capa da Veja em 1997 e,... Foto: Alex Rieiro/EstadãoMais
Arlete Salles
A atriz Arlete Salles também contou, na edição da Veja em 1997, que recorreu ao procedimento. Foto: Divulgação/TV Globo
Elke Maravilha
A atriz contou em entrevista à Revista IstoÉ que fez fez três abortos. Ela não tem filhos. "Sempre soube que não tinha talento para isso, que não sabe... Foto: DivulgaçãoMais
Hoje, a prática é considerada crime, em cinco artigos com tipificações no Código Penal. A pena mais severa prevista para aborto provocado pela própria gestante ou com o seu consentimento é de três anos; parlamentares querem aumentar o tempo para, no mínimo, quatro anos e meio. Torná-lo hediondo representaria ainda a perda de progressões e indulto.
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Outras propostas tentam sustar a aplicação da decisão do STF, do ano de 2012, que declarou não ser crime o aborto de anencéfalos. De outro lado, há ainda textos buscando garantir adequado tratamento a mulheres que forem submetidas ao aborto legal (com risco de vida à gestante ou em caso de gravidez resultante de estupro). Outros quatro projetos sobre o assunto tramitam no Senado.
A assessora técnica Jolúzia Batista, do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), elogiou a posição recente do STF e criticou a reação da Câmara. “O Supremo abre um precedente importante para avançarmos na questão da descriminalização do aborto”, disse. “Já o Legislativo tem demonstrado um conjunto de retrocessos de direitos, contra o qual somente a mobilização popular poderá fazer frente, como aconteceu no ano passado.”
Prestígio. A instalação da comissão colocou sob os holofotes uma das principais bandeiras da bancada evangélica, cujos parlamentares andavam desprestigiados desde a saída da sua maior liderança, Eduardo Cunha. Ao anunciar a instalação da comissão, Rodrigo Maia adotou o discurso de que não iria permitir que o Supremo legisle no lugar do Congresso.
Diante da sinalização, parlamentares, como o presidente da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso, deputado João Campos (PRB-GO), fizeram uma manifestação contra o aborto nesta quarta-feira. Com faixas e cartazes, eles afirmaram que a decisão do STF era o mesmo que “legalizar o assassinato”.
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Recém-lançado candidato à presidência da Casa, o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), afirmou que o debate é importante, mas criticou o caráter de reação da medida. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendeu a decisão do STF. “Quando o Congresso tem dificuldade para deliberar sobre um tema complexo, não acho ruim que o Supremo dê um entendimento sobre o tema”, disse. Segundo Renan, o Supremo só não poderia deliberar caso o Legislativo quisesse decidir contra a questão.