Mais de 400 ônibus são depredados em greve de funcionários no Rio

Veículos foram atacados por encapuzados e dez pessoas ficaram feridas em confrontos

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Por Roberta Pennafort , Marcelo Gomes e Thaise Constâncio
Atualização:

Atualizada às 20h58

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RIO - Pelo menos 467 ônibus foram depredados até as 18h desta quinta-feira, 8, na cidade do Rio por motoristas e cobradores que fizeram uma paralisação de 24 horas. Profissionais que não aderiram à greve tiveram seus veículos parados por homens encapuzados. De carros e motos, os encapuzados jogaram pedras nos vidros e exigiram que os coletivos fossem abandonados. Pelo menos nove pessoas foram detidas e dez ficaram feridas em confrontos.

A paralisação, prevista para terminar na noite desta quinta, levou transtornos para os cariocas, em especial em bairros como Jacarepaguá e Barra da Tijuca, na zona oeste, que não têm outros meios de transporte que permitam deslocamento por toda a cidade. Ao todo, 52 mil passageiros tiveram de migrar para metrô, trem e barcas.

Os grevistas informaram que 90% dos profissionais cruzaram os braços. Oficialmente, apenas 28% da frota saiu às ruas. Nos poucos veículos que circulavam, motoristas alteraram as rotas das linhas para fugir dos ataques e engarrafamentos e passageiros chegaram a se sentar no assoalho com medo de serem atingidos pelas pedras arremessadas.

Racha. Os grevistas discordam do acordo feito em março entre o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus do Rio (Sintraurb-Rio) e o Rio Ônibus (associação das 43 empresas de transporte), que garantiu reajuste salarial de 10% e aumento no vale-alimentação de R$ 120 para R$ 150. Entre as reivindicações do grupo que parou nesta quinta estão o aumento de 30% no salário e tíquete de alimentação no valor de R$ 400, além do fim do acúmulo de funções de motorista e cobrador.

O vice-presidente do Sintraturb-Rio, Sebastião José, calcula que 30% dos 40 mil profissionais aderiram ao movimento, mas a falta de ônibus circulando pelas ruas desmentia essa informação. Muitos motoristas e cobradores não conseguiram chegar às garagens das empresas para trabalhar ou, uma vez lá, foram impedidos de partir com os coletivos.

Segundo o Sintraturb-Rio, o acordo foi aceito pela maioria. Os grevistas, no entanto, alegam que os dirigentes do sindicato ignoraram suas reivindicações e não os representam mais. "O sindicato está sendo omisso", criticou Adriano Mesquita, um dos motoristas da Viação Real.

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"Eram 350 pessoas na assembleia e só 30 queriam greve", rebate o vice-presidente do sindicato, para quem o movimento "não melhora a proposta patronal". Para José, a motivação da paralisação não é inteiramente trabalhista. "Tem muita gente batendo em motorista na rua. O clima é de guerra, o Rio virou um barril de pólvora. Deve ter interesse político, porque motorista não tem essa estrutura."

Danos. A maioria dos ônibus danificados teve para-brisas, janelas, retrovisores e portas quebrados. Alguns veículos tiveram de ser rebocados porque as chaves foram retiradas e o motorista, obrigado a deixá-los.

Uma cobradora ferida por uma pedra jogada por manifestantes foi atendida na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Marechal Hermes, na zona norte. Na Avenida Brasil, em Manguinhos, também na zona norte, um homem atropelou um grupo de manifestantes na frente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e teve o carro depredado.

De manhã, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), cobrou que o Rio Ônibus colocasse pelo menos 70% da frota nas ruas, sob pena de multa e até mesmo cassação do contrato. Ele afirmou que as reivindicações dos grevistas devem ser tratadas com os empresários, já que eles não são funcionários da prefeitura. O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) fez discurso duro: "Não vamos tolerar piquetes que fechem rodovias e quem depredar ônibus será preso. Isso é vandalismo".

Prejuízo. O comércio teve perdas de 60% no faturamento do dia, conforme cálculo da Associação Comercial do Rio (ACRJ). O valor equivale a R$ 250 milhões. As lojas ficaram sem funcionários e clientes. Algumas tiveram de abrir as portas mais tarde, por causa dos atrasos de empregados.

Segundo a Federação de Empresas de Transporte de Passageiros do Estado (Fetranspor), o prejuízo com depredações de coletivos neste ano já soma R$ 42 milhões.

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