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Manifestação do Greenpeace atrapalha ato de verdes pró-Dilma

Enquanto agradecia a adesão de verdes, petista foi surpreendida por faixa que cobrava desmatamento zero

Por João Domingos e BRASÍLIA
Atualização:

Uma manifestação de surpresa do Greenpeace durante ato de adesão de 6 deputados e 20 dirigentes regionais do Partido Verde (PV) à candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência atrapalhou a festa da petista, ontem, em Brasília. "Desmatamento zero e lei dos renováveis. Você assina embaixo?", questionava faixa da organização não-governamental durante discurso em que Dilma agradecia a adesão dos verdes.No momento em que a faixa apareceu, bem próximo ao palanque em que estava, Dilma contava vantagens sobre o fato de assinar e cumprir o que assina. "Sou do tipo de pessoa que honra o que escreve", disse a petista. Quando ia provocar o tucano José Serra, dizendo "tem gente que...", a faixa foi levantada. A plateia que superlotava um pequeno salão de um hotel central de Brasília calou-se, surpresa, bem como a candidata.Aos poucos, começou um protesto dos presentes contra os manifestantes."Abaixa a faixa, abaixa a faixa. Fora tucanos", berravam verdes e petistas para os integrantes do Greenpeace. Dilma interveio. "Nós somos democratas. Deixa a moça apresentar a proposta dela", afirmou Dilma. Em seguida, a ex-ministra disse que não assinaria a reivindicação da ONG porque não poderia cumpri-la. "Não faço leilão para ganhar apoio. Eu afirmo o compromisso de redução do desmatamento de 80% da Amazônia. Não faço promessa fácil e nem quero ganhar nada que eu não posso olhar para vocês nos olhos e dizer: eu prometi, eu cumpri", afirmou a candidata. "A minha assinatura não vai em qualquer documento que alguém põe na minha frente e fala: assina. Porque isso é desrespeitoso."Acontece que há pouco mais de três meses Dilma fez exatamente o que condenou durante o discurso de ontem: assinou o programa de governo de sua chapa e o enviou para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sem, segundo contou depois, ter lido o conteúdo.O programa em questão tinha todas as propostas radicais apresentadas pelo PT durante o 4.º Congresso do partido, como o controle social da mídia, além de fazer a defesa da descriminalização do aborto. Dilma admitiu logo depois que havia "rubricado e não assinado" os documentos, sem os ler. Os papéis originais foram substituídos por outros, com uma versão mais amena do projeto de governo.Quando a cerimônia de ontem terminou, Dilma foi indagada sobre o que achava da reivindicação do Greenpeace, de desmatamento zero. Respondeu, no meio do tumulto e dos empurrões já corriqueiros nesses momentos: "É demagógica". Sérgio Leitão, diretor de campanhas do Greenpeace, disse que a ONG já havia apresentado a proposta para Dilma. Ele afirmou que, ao compará-los aos tucanos, o PT agiu com truculência e intolerância em relação aos manifestantes. E acrescentou: "A gente só não foi agredido porque havia testemunhas."Meta. Ao receber o apoio de parte do PV, Dilma comprometeu-se a ter tolerância zero com o desmatamento, mas descartou o desmatamento zero na Amazônia, levando em consideração que a região precisa ter um desenvolvimento econômico sustentado. Ele disse que a meta de seu governo, se vencer a eleição, é a mesma que o Brasil apresentou em Copenhague, em dezembro, de redução do desmatamento na Amazônia a 80% e no Cerrado a 40%. Dilma reafirmou que seu projeto de governo é diferente do de Serra, porque privilegia o desenvolvimento social, econômico e sustentável, e não apenas o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). A candidata afirmou que durante o governo Lula a política de distribuição de renda foi tão acertada que 28 milhões de pessoas - praticamente a população da Argentina - foi tirada da linha da miséria, enquanto 36 milhões de pobres entraram para a classe média.Entre os verdes presentes, estavam seis deputados federais - Roberto Santiago (SP), Zequinha Sarney (MA), Edson Duarte (BA), Fábio Ramalho (MG), Marcelo Ortiz (SP) e José Aparecido de Oliveira (MG). Também apareceram os ministros Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência), Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário), Samuel Pinheiro Guimarães (Assuntos Estratégicos) e Márcio Fortes (Cidades). Ângela Mendes, filha do líder sindical Chico Mendes (assassinado em 1988), anunciou apoio a Dilma, depois de ter lutado por Marina Silva, do PV, no primeiro turno. Também comunicou a adesão a Dilma o coordenador da campanha de Marina, Pedro Ivo, que, como a candidata verde, é evangélico. Ele afirmou, no discurso, que a campanha de José Serra criou "a mais insuperável rede boatos, calúnias e injúrias" que já se viu.

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