Manifestantes e policiais entram em confronto em Copacabana

Moradores da comunidade Pavão-Pavãozinho protestam contra a morte do dançarino DG

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Por Thaise Constâncio
Atualização:

Atualizada às 20h56

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RIO - O dançarino Douglas da Silva Pereira, de 26 anos, o DG, foi enterrado sob aplausos e gritos de "fora UPP" e "polícia assassina", às 15 horas desta quinta-feira, 24, no cemitério São João Batista, em Botafogo, na zona sul do Rio.

Além da comoção de amigos e familiares, havia muita tensão no cemitério, onde policiais e black blocs também acompanharam a cerimônia.

Moradores do morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, caminharam juntos até o cemitério, em uma passeata. Também voltaram a pé, já com a participação dos mascarados. Quando chegaram à Rua Sá Ferreira, que dá acesso à favela, houve confronto com a Polícia Militar. Atacados a pedradas, os PMs lançaram bombas de gás lacrimogêneo. Um adolescente foi detido, acusado de apedrejar a tropa.

A atriz Regina Casé, apresentadora do programa Esquenta, da TV Globo, onde Douglas trabalhava, acompanhou o enterro. "Ficaria chocada com essa história mesmo se não o conhecesse e só tivesse visto esse menino da forma mostrada pelo noticiário. Ele era alegre, criativo, um excelente trabalhador. Foi muito importante na criação do programa. Há quatro anos, ia pontualmente aos ensaios e gravações." Policiais fardados e à paisana acompanharam o enterro nas imediações do cemitério, sob protestos de familiares do dançarino. "Por que os policiais, sem serem convidados, vieram acompanhar a manifestação? Tenho direito de estar só com o meu filho e os amigos dele", disse a mãe, Maria de Fátima da Silva.

Jornalistas foram cercados e ameaçados de agressão por mascarados que gritavam "fora Rede Globo" e "mídia fascista, sensacionalista".

Grávida de oito meses, Jaqueline Fernandes, irmã de DG, chegou a desmaiar no cemitério. O irmão mais novo do dançarino, Leonardo Pereira, de 19 anos, também estava muito abalado e foi afastado do túmulo pelo pai, o pintor Paulo César Pereira, de 50 anos. "Você tem noção da dor que eu estou sentindo aqui dentro? É um buraco enorme. Eles humilharam meu irmão", disse Leonardo.

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Moradora do Pavão-Pavãozinho e organizadora da passeata, Deyse Carvalho contou que DG a procurou, há cerca de um mês, para contar que estava sendo perseguido por três policiais da UPP. "Eles (PMs) falaram que iam forjar ele (Douglas) com drogas. Me sinto muito culpada por não ter comunicado o caso ao Ministério Público", disse.

Histórico. O corpo de DG foi encontrado na manhã de terça-feira, 22, em uma creche no alto do morro Pavão-Pavãozinho. Durante a madrugada ouve tiroteio entre traficantes e policiais, mas a polícia ainda não conseguiu estabelecer relação entre a troca de tiros e a morte do dançarino.

De acordo com relatos de moradores à mãe do rapaz, policiais civis e militares foram até a creche na manhã de terça porque "pretendiam sumir com o corpo". A comunidade, ao perceber a movimento, iniciou uma série de protestos.

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