A garota Brenda Martins, de 9 anos, e sua mãe Vaneide Martins visitaram, na tarde desta segunda-feira, 1, a recém- nascida encontrada no rio Arrudas, em Contagem, Minas Gerais. A garota segue na UTI neonatal do Hospital e Maternidade Risoleta Neves. Brenda viu a garota boiando com a cabeça encostada em uma pedra enquanto brincava nos fundos da casa, na beira do rio. Desesperada, ela gritou e chamou os pais, pedindo socorro. A menina foi batizada com o nome de "Michelle" pela equipe médica da maternidade. A princípio, Brenda acreditou ou que se tratava de uma boneca. "Vi que era gente quando ela respirou, e a costela mexeu", contou a vendedora Vaneide Martins dos Santos, que foi alertada pela filha. As duas compareceram à CTI e Brenda deixou o local bastante emocionada. A ação rápida de dois moradores salvou a recém-nascida. Com a água acima da cintura, Tiago Magalhães, 23 anos, e Adailton Elias, 27, retiraram o bebê e o enrolaram em um cobertor. Rapidamente, os dois arrumaram uma carona para levar a criança até o hospital mais próximo. Ela deu entrada com um quadro clínico considerado crítico, com perda de funções vitais. Precisou ser reanimada pelos médicos antes da transferência para a maternidade. Embora rejeitasse o rótulo de herói, Tiago se emocionou com o salvamento. Ele completou nesta segunda-feira 23 anos e lembrou que comemorava antecipadamente o aniversário quando viu a movimentação nas margens do ribeirão poluído. "Foi o melhor presente de aniversário de minha vida", disse o operador de produção, que é casado e pai de dois filhos - um menino de seis anos e uma menina de seis meses. "Pensei na minha filha". Apesar das dificuldades financeiras, com um salário de R$ 670 por mês, ele afirmou que gostaria de ficar com a criança. "Onde comem dois, dá para comer mais um". A maternidade notificou a Vara da Infância e a criança poderá ser encaminhada à adoção. Prisão em flagrante A polícia mineira prendeu em flagrante na manhã desta segunda, Elisabete Cordeiro dos Santos, de 25 anos. Ela confessou ter jogado a filha recém-nascida no ribeirão Arrudas. Elisabete foi autuada por tentativa de homicídio. A menina foi resgatada com vida por populares das águas poluídas do ribeirão, que recebe dejetos de toda a região metropolitana da capital mineira, na tarde de domingo. O delegado Anderson Pires Bahia, do 4º Distrito Policial de Contagem, disse que depois de submetida a exames no Instituto Médico-Legal, em Belo Horizonte, ela precisou ser internada para a realização de uma curetagem uterina. Elisabete deverá ficar internada de 24 a 72 horas. Aos policiais, a jovem disse que tomou remédios abortivos na madrugada de domingo. Os medicamentos provocaram o nascimento prematuro da criança, no oitavo mês de gravidez. Conforme o delegado, Elisabete disse que ingeriu ervas conhecidas como "buchinha paulista" e "um comprimido azul", não identificado. Após o nascimento da criança, ela afirmou que colocou a menina dentro de uma sacola plástica e jogou-a pela janela no ribeirão Arrudas. Solteira, a jovem disse também que escondeu a gravidez do pai e dos familiares. A polícia já tinha a identificação e procurava o pai da criança para que ele fosse ouvido. "Ela falou que não queria a criança e por isso tomou abortivo. Quando a criança nasceu, ela jogou pela janela", destacou o delegado. "Em momento algum ela falou em arrependimento". Bahia concluiu que o crime foi praticado "com premeditação". Ele solicitou que a mãe fosse submetida a exames, inclusive de sanidade mental. A versão apresentada por Elisabete ainda será investigada e confrontada com a perícia. A recém-nascida foi encontrada na tarde de domingo, nas águas do ribeirão, amparada por uma pedra. Testemunhas disseram que ela estava nua, ainda com o cordão umbilical e suja de placenta. O delegado não soube estimar a distância que a criança teria percorrido no ribeirão. Convulsão - Médicos que atenderam a menina afirmaram que ela apresentava hematomas leves no tórax e joelhos. "O que sugere que ela foi jogada de frente", comentou a diretora geral da maternidade, Renata Graziela Soares. Pesando 2,1 kg e medindo 45 cm, a menina respirava com a ajuda de aparelhos e estava sendo medicada com antibióticos. Apresentou uma crise convulsiva, que foi controlada com medicamentos. Conforme a diretora, o sintoma é um "indício" de lesão neurológica, que só poderá ser confirmada pela tomografia. De acordo com os médicos, não há previsão de alta. "Há risco de infecção", destacou Renata.