Delator do estupro coletivo no Piauí é morto dentro de cela

Adolescente de 17 anos foi espancado com socos e chutes; outros acusados teriam assumido crime e dito que era um ato de vingança

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Por Luciano Coelho
Atualização:

Atualizada às 21h59

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TERESINA - O adolescente Gleison Vieira da Silva, de 17 anos, um dos acusados de estuprar quatro jovens e matar uma delas em Castelo do Piauí, e que delatou outros quatro menores e um adulto em vídeo gravado pela polícia, foi assassinado na madrugada desta sexta-feira, 17, dentro do Centro Educacional Masculino (CEM), onde estava internado.

Segundo a polícia, ele foi morto pelos outros adolescentes acusados do estupro coletivo. Eles foram colocados juntos em uma cela, para não terem contato com os demais internos. Antes, quando estavam no Centro Provisório, ocupavam celas individuais.

Em 27 de maio, os quatro adolescentes, junto com o maior Adão José dos Santos, de 40 anos, segundo a polícia, dominaram, estupraram, espancaram e depois jogaram quatro adolescentes de um morro de cerca de 10 metros de altura. Uma das meninas, Danielly Rodrigues, de 17 anos, morreu em consequência do espancamento. Os adolescentes foram condenados a 24 anos de internação pelos crimes.

O gerente de Internação do CEM, Francisco Herbert Neves da Cruz, informou que abrirá sindicância para apurar se houve negligência por parte dos policiais ou educadores de plantão na morte de Gleison.

“Vamos abrir sindicância para apurar se houve facilitação ou negligência dos profissionais de plantão. Não tive nenhuma recomendação oficial para que ele ficasse isolado”, disse. Ele alegou que a unidade não tem estrutura física para separar Gleison dos demais internos e que buscou proteger os quatro acusados do estupro. “Se não colocasse os quatro separadamente em outras alas, com certeza haveria quatro mortes hoje”, afirmou o gerente de internação.

No Centro Educacional de Internação Provisória, os acusados estavam isolados, cada um em uma cela; mas, no Centro Educacional Masculino, foram colocados todos juntos Foto: Governo do Piauí/Divulgação

Segundo o diretor de atendimento sócio-educativo da Secretaria Estadual de Assistência Social e Cidadania (SASC), Anderly Lopes, Gleison foi vítima de espancamento, com socos e chutes. Ele teve afundamento de crânio e várias outras lesões.

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“Os mesmos garotos que participaram do ato infracional em Castelo do Piauí assumiram que foram os responsáveis pela morte desse menor e sem nenhum remorso ou arrependimento. Se mostraram frios e disseram que era um ato de vingança. Mataram com as próprias mãos”, informou.

Os jovens serão levados de volta para celas individuais no Centro Provisório. O juiz da 2.ª Vara da Infância e Juventude, Antônio Lopes, informou que ainda está averiguando como será o cumprimento da medida sócio-educativa imposta a eles. “Não temos como manter estes menores no Centro Educacional Masculino”, frisou.

O CEM, onde Gleison foi morto, está lotado. Com capacidade para 60 internos, abriga atualmente 84 adolescentes. Para o Ministério Público Estadual (MPE), houve falha na segurança. O adolescente já tinha dito em depoimento que foi ameaçado de morte por seus comparsas no crime e por outros internos.

O maior acusado do crime, Adão José dos Santos, de 40 anos, também sofreu agressões na cadeia. Ele deu entrada no hospital com ferimentos leves nesta sexta. 

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O secretário de Justiça do Piauí, Daniel Oliveira, informou que Adão já recebeu alta. “Ele vai ficar em isolamento pelos próximos 15 dias. E depois não vai se misturar com os outros internos.”

Notícia foi comemorada. A assistente social que atua em Castelo do Piauí, Ticiana Cavalcante Chaves Martins, esteve no Instituto Médico-Legal (IML) ontem para tentar liberar o corpo do adolescente Gleison Vieira da Silva, de 17 anos, morto por seus companheiros dentro do Centro Educacional Masculino (CEM), onde estava internado.

Segundo ela, moradores de Castelo do Piauí, a 140 quilômetros da capital, Teresina, onde o estupro coletivo aconteceu em maio, soltaram rojões e comemoraram quando souberam que Gleison havia sido assassinado pelos comparsas no crime.

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“Houve uma movimentação muito grande no Instituto Médico-Legal”, comentou Ticiana. “As pessoas estavam comemorando (a morte de Gleison).”

Por medo de represálias, a família desistiu de enterrar o adolescente em Castelo do Piauí. O sepultamento ocorreu no fim da tarde de ontem no Cemitério Santa Cruz, em Teresina.

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