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Metrô sabia de risco de desabamento em Pinheiros, diz revista

Documentos de 2006 revelam que os problemas na rede de água e esgoto da região já eram de conhecimento dos responsáveis pelas obras da Linha 4

Por Agencia Estado
Atualização:

Documentos internos do Metrô revelam que tanto a empresa quanto o consórcio de empreiteiras responsável pelas obras da linha 4 - Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez - sabiam dos riscos nas proximidades da Estação Pinheiros um ano antes do desabamento ocorrido no último dia 12 de janeiro, que causou a morte de sete pessoas. De acordo com reportagem da Revista Época deste final de semana, atas de reuniões entre representantes do Metrô e o consórcio das construtoras mostram que já havia sido percebido um aprofundamento na Rua Capri no dia 10 de janeiro de 2006. Segundo os documentos, a consultoria CNN Planejamento foi contratada para estudar as causas do aprofundamento da Rua Capri e enviar ao Metrô as conclusões e providências a serem tomadas. A empresa disse ter encontrado problemas na rede de água e esgoto da região. A versão foi desmentida pela Sabesp, que avaliou que o laudo não era conclusivo por conter apenas fotos da rua, desenhos de plantas e atas de reuniões. A Sabesp confirmou à reportagem ter feito análises no local e não encontrou evidências de problemas nas redes de água e esgoto. Outro documento do mês de maio registra que a moradora Carmen de Leoni, que morava na casa número 87 da Rua Capri, havia reclamado que rachaduras e trincas estavam surgindo por toda a casa já havia pelo menos oito meses. A casa foi condenada e demolida no último dia 23 de janeiro. O material está em poder do Ministério Público de São Paulo e da Assembléia Legislativa do Estado. Problemas sérios Especialistas consultados pela reportagem analisaram os documentos e afirmaram que os registros de aprofundamento da Rua Capri e das rachaduras nas casas dos moradores são indícios de problemas sérios da obra, não enfrentados pelo Metrô e pelas construtoras por "incompetência ou negligência". Para o engenheiro, presidente do Instituto do Concreto Armado e professor da Escola Politécnica da USP Paulo Helene, os engenheiros não conseguiram detectar a origem do aprofundamento da rua ou não foram eficientes em resolvê-lo. "Uma obra como essa não desaba de uma hora para outra sem dar sinais. O que os documentos mostram são esses sinais", disse. O geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, que atuou por 30 anos no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo, avaliou como grave o fato de fatores importantes terem sido desconsiderados pelos responsáveis pela obra. "Houve negligência em algum momento", opinou.

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