Mineira que nasceu na menor cidade do Brasil relata vida em SP

Eliana Rocha cresceu em Serra da Saudade, município com 822 moradores, e se mudou para a cidade mais populosa do País

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Por Julia Marques
Atualização:
Serra da Saudade, no interior de Minas, tem menos de 900 habitantes Foto: Reprodução

SÃO PAULO - Um auditório do Parque do Ibirapuera cheio de pessoas. Esse é, aproximadamente, o número de moradores do município menos populoso do Brasil: Serra da Saudade, em Minas Gerais, com 822 habitantes, de acordo com levantamento divulgado nesta quinta-feira, 28, pelo IBGE. Na ponta oposta do ranking, está São Paulo, a cidade mais densa do Brasil, onde vivem mais de 11 milhões de pessoas.

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Transpor as barreiras de mundos tão diferentes foi o desafio da serrana-saudalense Eliana Rocha, hoje com 44 anos. Aos 18, ela deixou a cidade natal e foi a primeira da família a se aventurar em terras paulistanas. "Hoje eu não viria, mas naquela época não tinha muito juízo", brinca. 

Na capital, foi ser copeira na casa de uma família no Jardim Europa, bairro nobre da zona oeste, onde ficou por dois anos. Mais tarde, se mudou para Diadema, na região metropolitana, e trabalha hoje como auxiliar legislativa na Câmara Municipal. A busca por opções de trabalho e estudo foi o que motivou a viagem. Eliana conta que, quando chegou, a cidade grande não a assustou tanto. "Hoje me assusta muito mais. O trânsito, a quantidade de carros me dão paúra", diz.

Eliana Rocha, de 44 anos, se mudou da cidade menos para a mais populosa do Brasil Foto: Reprodução

A casa onde morava, na área rural de Serra da Saudade, era de feita de barro e cercada de animais, diferente de onde vive hoje. As opções de trabalho e lazer eram escassas, mas o medo não existia. "A gente nem sabia o que era violência", conta. Só a história de um homicídio, na década de 60, assombrava os moradores. "Eu sei até de que família eles eram, mas não era nem nascida", diz. Em São Paulo, com dois filhos gêmeos adolescentes, dormir está cada vez mais difícil. "Eles estudam à noite, eu fico acordada com medo de violência e acidente".

Na Serra, como Eliana gosta de chamar a cidade onde nasceu, ia paquerar na praça, onde também fica a prefeitura. O número de pretendentes não era grande. "Mas era suficiente", conta. Festa mesmo acontecia em janeiro, na Folia de Reis, e em setembro, nas homenagens a Nossa Senhora do Rosário, quando gente de fora "lotava a cidade". Em São Paulo, Eliana elogia as opções de lazer. "Para quem gosta de sair à noite, tem muita coisa para fazer. Eu gosto de ir a restaurantes e experimentar comidas gostosas, apesar de que a comida mineira é muito boa também." 

Quando aposentar, Eliana quer deixar a cidade mais populosa do Brasil e voltar a compor as estatísticas humildes da Serra. Perguntada sobre o motivo do nome da cidade onde nasceu, ela disse que não sabe, mas improvisa uma explicação bastante pessoal: "Tem muitas montanhas em volta. E que deixa saudade, isso deixa. Muita."

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