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MP abre investigação sobre rompimento de barragem em MG

Para especialista, problemas de estrutura podem ter causado o acidente em Mariana; região é alvo de exploração desde o período colonial

Por Monica Reolom e Daniel Bramatti
Atualização:

Atualizada às 14h23

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O Ministério Público Estadual de Minas abriu inquérito para apurar as causas do rompimento de uma barragem no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, Minas Gerais. Até as 14 horas desta sexta-feira, 6, havia uma pessoa morte e quatro feridas - o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais chegou a confirmar 17 mrotos, mas depois reviu os dados. O promotor de Meio Ambiente Carlos Eduardo Ferreira Pinto disse nesta quinta-feira, 5, que “nenhuma barragem rompe por acaso, não é uma fatalidade”. 

Para especialistas, só problemas de estrutura podem ter causado a tragédia. É o que diz a professora de Engenharia de Minas Maria Luiza Souza, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “A barragem foi mal feita ou já estava com problema”, afirma. Segundo ela, precisa ter havido “alguma besteira” na construção ou na manutenção da contenção. Também não foram registradas fortes chuvas na região.

Uma barragem de rejeitos serve para deter os resquícios que sobram do beneficiamento do minério. O material beneficiado é vendido para a indústria, enquanto os rejeitos são depositados na barragem.

A construção de uma contenção como essa é mais simples do que a de uma hidrelétrica, por exemplo, porque geralmente a empresa se aproveita das condições do terreno. O fundo de um vale pode servir de base para a barragem, enquanto as montanhas ao redor fazem o papel de represa. Os próprios rejeitos também podem ser misturados com cimento para formar uma estrutura firme ao redor de onde se pretende jogar os restos de minério.

O rejeito do minério de ferro, usado em Mariana, parece uma lama fina. Ao longo dos anos, a tendência é que essas substâncias sequem. “Se a barragem ainda está com muita água, quando rompe ela desce como um rio de lama. Provoca assoreamento de rios, vem varrendo tudo pela frente”, explica Maria Luiza. “Se a lama está saturada de água, fica sem resistência nenhuma. Por ser um solo muito fino, isso vira um caudal (grande fluxo de lama)”, diz.

A professora afirma que o rejeito de minério de ferro não oferece perigo à saúde porque não contém metais pesados nem componentes ativos que fazem mal. O maior perigo é assorear os rios da região e prejudicar o abastecimento de água. Histórico. A região atingida pelo acidente é alvo de exploração desde o período colonial. O início da alteração data do século 18, com intenso desmatamento por mineradoras em busca, principalmente, de ferro. 

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A análise é da própria Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais. As informações constam de um relatório oficial elaborado em 2013 pela pasta, que atendeu a um pedido da empresa Samarco para aumentar a capacidade de armazenamento de rejeitos da Barragem do Fundão. A outorga tinha validade de seis anos e previa o aumento da pilha de rejeitos com uma barragem de até 152,5 metros. 

A secretaria relata que o desmatamento foi intensificado. “As matas de grande porte foram fragmentadas e substituídas por eucaliptos.” 

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