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MPE instaura inquérito para apurar ataques racistas a Maju

Segundo promotor, autores de comentários sobre a jornalista podem ser enquadrados nos crimes de racismo e de injúria qualificada

Por Paula Felix
Atualização:
Maria Júlia Coutinho é repórter do tempo do Jornal Nacional Foto: Reprodução

SÃO PAULO - O Ministério Público do Estado (MPE) informou nesta sexta-feira, 3, que instaurou um procedimento investigatório criminal para apurar os comentários racistas direcionados à jornalista Maria Júlia Coutinho, do Jornal Nacional da TV Globo. 

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“As pessoas acham que estão navegando em um oceano de impunidade, mas já presidi várias investigações (sobre crimes de racismo na internet) e tive sucesso”, afirma o promotor de Justiça Criminal Christiano Jorge Santos, que também é professor de Direito Penal da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Santos diz que o órgão teve acesso ao caso por meio do controle interno que é feito no MPE e que a investigação logo foi aberta. Ele diz que o fato de a jornalista ser uma figura pública não interferiu no processo. “Para nós, não faz diferença se é conhecida ou não.”

O promotor, que é autor do livro Crimes de Preconceito e de Discriminação, disse que começou a investigar crimes de racismo on-line em 2004 e que a prática tem crescido nos últimos anos.

“Posso dizer que está crescendo e é um crescimento vertiginoso. Quanto maior o número de pessoas acessando a internet e as redes sociais, maior o número de casos. Mas as pessoas precisam entender que a livre manifestação de pensamento não é absoluta”, afirmou o promotor.

Ele diz que as pessoas que fizeram os comentários sobre Maria Júlia podem ser enquadradas nos crimes de racismo e de injúria qualificada. O crime de racismo é imprescritível e inafiançável. Já a injúria qualificada tem pena de um a três anos de reclusão.

Entenda o caso

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A jornalista Maria Júlia Coutinho foi alvo de comentários racistas na noite de quinta-feira, 2, na página oficial do telejornal no Facebook. Usuários escreveram posts pejorativos sobre a cor da pele da jornalista em uma publicação que continha a foto dela com a previsão do tempo para esta sexta-feira.

Publicações em defesa de Maria Júlia, também chamada de Maju por colegas de trabalho e telespectadores, logo surgiram após as críticas. Na tarde desta sexta, um usuário do Twitter postou uma crítica ofensiva à jornalista, que foi rebatida por ela. "Beijinho no ombro", respondeu Maju.

Ainda nesta tarde, o âncora do Jornal Nacional William Bonner, a apresentadora Renata Vasconcellos e a equipe do telejornal fizeram um vídeo em resposta aos comentários preconceituosos. Sem citar a polêmica, Bonner falou: "A gente queria dar um recado para vocês. E o recado é esse aqui, ó: 'somos todos Maju'". Até as 18h10, o vídeo já tinha 44.498 compartilhamentos. A hashtag "SomosTodosMajuCoutinho" ficou em primeiro lugar nos Trend Topics do Twitter. 

#SomosTodosMajuCoutinho #SomosTodosMaju Posted by Jornal Nacional on Sexta, 3 de julho de 2015

Em nota, a TV Globo informou que as mensagens racistas contra a jornalista Maria Júlia Coutinho foram retiradas da página do Facebook do Jornal Nacional.Segundo a emissora, o jornal dará, na edição desta noite, "notícia sobre o lamentável episódio". 

A Globo estuda ainda as medidas judiciais cabíveis para o caso, informou a nota. 

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