Na ‘Cidade de Deus’ de Itanhaém, ladrão leva bikes e peças de roupa

Em Peruíbe, barracas de lanche seriam pontos de maconha e cocaína; morador deixa filhos trancados em casa

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Por Rafael Italiani
Atualização:

“Salve, CDD.” Quem chega ao Conjunto Residencial Guapurá, na periferia de Itanhaém, no litoral paulista, logo lê a sigla pichada em alguns dos condomínios. “É porque aqui parece a Cidade de Deus do Rio e o bairro é perigoso que nem o do filme. Então, as pessoas conhecem aqui como CDD”, explicou uma dona de casa de 37 anos, que preferiu não se identificar.

A família dela é uma das mais de 1.200 que vivem em pequenos apartamentos de 44 m² no bairro criado pelo programa Minha Casa Minha Vida. “Ninguém entra aqui para entregar nada. Quando a polícia vem, os traficantes conseguem ver de longe e avisam os outros.”

Guapurá. Entregadores e até a polícia evitariam o local Foto: SERGIO CASTRO/ESTADÃO

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Segundo o Ministério da Justiça, moradores de um dos condomínios da “Cidade de Deus” tiveram de vender os apartamentos para traficantes. Segundo outra moradora, os ladrões roubam bicicletas de crianças de dentro dos prédios e até peças de roupas que ficam nos varais. “De noite isso aqui parece o inferno. O parquinho das crianças vira ‘maconhódromo’. No dia seguinte, para elas conseguirem brincar, precisamos varrer os pinos de cocaína.”

Os moradores também reclamam da falta de policiamento. “Tem vezes que a PM vem e fica olhando de longe. Acho que já percebeu que os traficantes conseguem ver os carros de longe.” No 29.º Batalhão de Policiamento do Interior (BPM-I), que fica na cidade, um oficial pediu para a reportagem encaminhar um e-mail oficial para o batalhão e disse que “também gostaria de uma viatura na porta” da casa dele. Informalmente, solicitou ainda para os moradores procurarem o 181 do Disque-Denúncia porque “a polícia não pode estar em todos os lugares”.

Peruíbe. Na cidade vizinha de Peruíbe, é o Conjunto Residencial Serra do Mar, no loteamento Santa Isabel, que tem problemas de segurança pública. As barracas de lanche que ficam nas esquinas das ruas no entorno do prédio são apontadas como centrais de tráfico de drogas. Já os apartamentos de alguns residenciais são usados para prostituição, como indicam reclamações feitas ao Ministério da Justiça. 

E a prostituição, segundo a população local, atrai traficantes. “O cheiro de maconha é insuportável à noite. Essas barracas de lanche que ficam fechadas durante o dia só abrem depois das 18 horas e ficam vendendo cocaína”, afirmou um mecânico, de 43 anos, pai de dois filhos, que não deixa as crianças saírem sozinhas. “Eu saí de uma favela para ter de deixar meus filhos escondidos dentro de casa. Não sinto segurança nem dentro do prédio.”

Para Francisco Antônio Wenceslau, delegado titular da Delegacia de Investigação sobre Entorpecentes (Dise) da Seccional de Itanhaém, “os traficantes ficam camuflados” entre os moradores. Uma operação recente terminou com cinco traficantes presos e um morto, no entorno do residencial. / COLABOROU PAULO SALDAÑA

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