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Natal sem família tem viagem e amigos por perto

Tradicional ceia com parentes e presentes não é realidade para todos; psicólogos recomendam que pessoas não se isolem

Por Paula Felix
Atualização:

Passar o Natal com a família já é uma tradição, mas o momento de rever parentes, trocar lembranças e presentear durante a ceia não é para todos. Quem mora em outra cidade ou outro país precisa encontrar uma forma de driblar a saudade e viver a data sem sofrimento. E, nessa hora, vale tudo: desde cancelar a festa em casa e viajar, celebrar com amigos que também estão longe da família, criar coragem para ficar sozinho e até recorrer à tecnologia para se aproximar dos parentes.

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Na casa da diretora de escola Tânia dos Santos Bezerra, de 48 anos, nem a árvore de Natal foi montada. Com a mudança de um dos filhos para a Irlanda em novembro, a família resolveu que faria algo diferente. “A gente sempre comemora o Natal, decora a casa, monta a árvore e faz amigo secreto. Neste primeiro Natal em que o Pablo foi para longe, decidimos que todo mundo ia viajar.”

Assim, Tânia, o marido e o filho mais novo vão para Maceió. O filho mais velho vai com a mulher para Ouro Preto. E o músico Pablo Bezerra Marchatto, de 25 anos, que mudou a dinâmica da festa, vai para Paris. O encontro da família contará com um empurrão da tecnologia, pois eles vão se falar usando o WhatsApp e o Skype. “A ideia surgiu quando veio a data da viagem dele, em novembro. A gente estava se preparando para comprar as coisas do Natal, mas decidi que não montaria árvore nem colocaria pisca-pisca. Por causa do fuso horário, marcamos uma hora para se falar pelo Skype.”

Valentim (de chapéu) faz o Natal para quem está longe da família Foto: JOSE PATRICIO/ESTADÃO

Marchatto viajou para estudar inglês e música e está morando com a namorada em Limerick. Ele conta que já passou um Natal fora de casa, mas que, agora, está vivendo a primeira experiência de comemorar a data morando em um país diferente. “No Natal de 2013 estava viajando com minha namorada no Chile. Mas, no momento da ceia, tive saudade de casa e de um Natal com a família, já que foi meu primeiro sem uma casa cheia de parentes e amigos. Eu e minha namorada tivemos uma ceia mais simples, sem tantas guloseimas típicas, já que éramos só nós dois no hotel.”

O músico dá dicas para tentar superar a saudade. “Deve-se aproveitar ao máximo o momento que estiver vivendo, curtir novos lugares, novos trabalhos, novas amizades. O conhecimento e a experiência são sempre muito bons e nos acompanham para sempre. Além disso, é bom estar em contato com os familiares para saber das coisas de casa e ouvir que eles também sentem saudade.”

Proximidade. Irmão de Marchatto, o administrador de empresas Ícaro Marchatto, de 27 anos, não esconde a falta que sente de conviver com o músico, especialmente nas datas em que a família costumava se reunir. “Durante cinco anos morei somente com ele e sinto muita saudade. Somos muito próximos, muito ligados. A gente se fala quase todos os dias.”

Ele, que vai viajar para Minas Gerais, também encontrou sua forma de lidar com o sentimento: “Não tem nada melhor do que as lembranças boas. É nisso que cada pessoa tem de se apegar, não só neste período de Natal. Assim, fica uma lembrança gostosa e se evita o sofrimento.”

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Receber os amigos em casa foi a alternativa encontrada pelo gerente administrativo e estudante de Gastronomia José Valentim, de 24 anos. Desde o ano passado, ele promove o Natal dos Amigos, que reúne pessoas que estão longe da família e não têm onde comemorar a data. Valentim é do Rio Grande do Norte e mora em São Paulo há sete anos. “Sempre gostei de receber amigos, promover encontros. Neste ano, vamos fazer uma ceia moderna, porque a gente não gosta de rabanada, peru e chester. Teremos ‘finger food’ e caipirinhas”, conta.

Além da festa oficial, ele e os amigos fazem também uma comemoração antecipada que chamam de pré-Natal. Os encontros são ainda uma oportunidade para ele apresentar suas técnicas culinárias. “Você acaba colocando em prática o que aprendeu. Os amigos pedem um prato e é uma experiência. Sou personal chef dos amigos”, brinca.

Desde que se mudou, Valentim nunca voltou para o município do Paraná, sua cidade natal, para passar as festas. “Neste ano fui ver meus pais na Páscoa. Final de ano é mais caro. Eu falo que os amigos são a família que escolhemos para viver.”

Ficar sozinha está nos planos da estudante Liliane Maracajá do Nascimento, de 26 anos, que é de João Pessoa e se mudou há dez anos para o Estado de São Paulo. Há quatro anos, ela mora em Piracicaba e já comemorou o Natal com amigos e o namorado. “Para mim é uma época muito triste, porque estou longe dos meus pais e com outras pessoas. Tento não pensar muito.”

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Liliane mora em uma república, que costuma ficar vazia no período, mas não está preocupada com a solidão. “Não quero ficar de abraço nem fazer amigo-secreto. Teve um ano-novo que passei sozinha, tomei um copo de vodca com gelo e fui dormir.” Liliane diz que, no futuro, pretende passar o Natal com os pais. “Penso em ir para João Pessoa, pois eles estão ficando velhos.”

Criatividade. Psicólogo especializado em relacionamento pela Universidade de Miami, Alexandre Bez diz que inovar na comemoração é uma forma de celebrar o Natal sem sofrimento, pois é comum que as pessoas se sintam tristes quando estão longe de familiares e amigos na época das festas do final do ano. “(A pessoa pode) associar-se a algum grupo. Isso ajuda a minimizar o sentimento, dando conforto e sensação de acolhimento. Use a criatividade. Apenas evite o isolamento, pois isso só piora a situação.”

Bez diz ainda que comemorar com os amigos é uma opção a ser avaliada. “Qualquer medida tomada em relação ao participar é mais válida do que não fazer nada. Se unir com pessoas que também estão sozinhas ameniza a dor e ajuda a integração, não deixando sentimentos negativos se alastrarem.”

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Psicoterapeuta e psicóloga clínica, Cecília Zylberstajn acredita que a época traz a oportunidade de repensar decisões e fortalecer a relação com quem está por perto. “Esta época é um período de fato para reavaliarmos as escolhas, vermos se é possível mudar, pensarmos na realidade e no que poderia ser feito. É uma oportunidade para rever as relações que existem e valorizar as pessoas boas que estão por perto.”

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