Número de casos de estupro no Brasil pode ser 10 vezes maior
Pesquisa do Ipea apontou que até 527 mil pessoas, por ano, dizem ter sido vítimas; vergonha e medo dificultam denúncias
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Por Fabio de Castro e Marco Antônio Carvalho
Atualização:
SÃO PAULO - Uma mulher é estuprada a cada 11 minutos no País. O dado da frequência de ataques sexuais ganhou destaque após a repercussão de estupros coletivos cometidos no Rio e no Piauí na semana passada e estampou cartazes em atos realizados em diversos Estados. O número, no entanto, é reconhecidamente subnotificado e, segundo especialistas, pode ser até dez vezes maior - estima-se que mais de meio milhão de mulheres, por ano, tenham sofrido algum tipo de violência sexual. A proporção, então, seria de quase um abuso por minuto.
Pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do governo federal, estimaram, com base em dados de pesquisa feita em 2013, que 0,26% da população tenha sofrido algum tipo de violência sexual, porcentagem que equivale a 527 mil pessoas. A percepção se deu após aplicação de questionário no âmbito do Sistema de Indicadores de Percepção Social, com perguntas sobre o assunto. Do total de casos, apenas 10% chegam ao conhecimento da polícia, reforçaram os pesquisadores.
Jovem vítima de estupro coletivo presta segundo depoimento
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Jovem vítima de estupro coletivo presta segundo depoimento
Aochegar à Cidade da Polícia(sede das delegacias especializadas, na zona norte) acompanhada da mãe e da advogada Eloísa Samy Santiago, a vítimateve a ... Foto: Wilton Junior/EstadãoMais
Jovem vítima de estupro coletivo presta segundo depoimento
Até o momento, foram identificados quatro homens: Michel Brazil da Silva, de 20 anos, Lucas Perdomo Duarte Santos, de 20 anos, Raphael Assis Duarte Be... Foto: Wilton Junior/EstadãoMais
Jovem vítima de estupro coletivo presta segundo depoimento
No primeiro depoimento,a jovem disse que 33 bandidos armados de fuzis e pistolas participaram das agressões sexuais que sofreu em uma casa no morro do... Foto: Wilton Junior/EstadãoMais
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Na segunda-feira, a família da menina deve se reunir com o secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Paulo Melo. Há a expectativa ... Foto: Wilton Junior/EstadãoMais
Jovem vítima de estupro coletivo presta segundo depoimento
Em depoimento à Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) da Polícia Civil,a adolescente de 16 anos disse que não conhecia nenhum dos agre... Foto: Wilton Junior/EstadãoMais
Jovem vítima de estupro coletivo presta segundo depoimento
O crimecausourevolta e mobilização na web. Usuários das redes sociaisdivulgaram a imagem de uma mulher crucificada no símbolo de Vênus, além de cobrar... Foto: Wilton Junior/EstadãoMais
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A razão para a subnotificação vai desde o constrangimento e medo à descrença de que o sistema de segurança possa oferecer solução e segurança à vítima. “Os números são bem maiores do que os que chegam à polícia, sem dúvida. As mulheres se sentem principalmente constrangidas em ter de passar pelo julgamento social e até mesmo das autoridades. Por isso, acabam não denunciando”, disse a promotora Maria Gabriela Prado Manssur, especialista no enfrentamento à violência contra a mulher do Ministério Público do Estado de São Paulo.
Para a promotora, a falta de notificação representa um risco, já que um ataque inicial pode voltar a acontecer de forma mais grave, com perigo de resultar em feminicídio. “Não podemos deixar que a violência contra a mulher se torne algo banal. Os ataques representam um total desrespeito à liberdade sexual da mulher, e se mostram como uma forma de controle e opressão a esses direitos.”
Manifestantes vão às ruas em apoio à vítima de estupro coletivo
1 / 15Manifestantes vão às ruas em apoio à vítima de estupro coletivo
Indignação no Rio
A jovem presta depoimento à polícia nesta sexta-feira, 27 Foto: Vanderlei Almeida/AFP
Indignação em SP
Nas imagens, os agressores aparecem zombando da vítima Foto: Gariela Bilo/Estadão
Indignação em SP
'Não dói o útero, dói a alma', postou a vítima em uma rede social Foto: Gabriela Bilo/Estadão
Indignação no Rio
Manifestantes se reuniram em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) Foto: Vanderlei Almeida/AFP
Indignação no Rio
Com cartazes, dezenas manifestaram apoio a jovem de 16 anos que foi estuprada por mais de 30 homens Foto: Vanderlei Almeida/AFP
Indignação no Rio
O caso atraiu a atenção da imprensa internacional Foto: Leo Correa/AP
Indignação no Rio
O crime também reacende o debate sobre o aborto no Brasil Foto: Leo Correa/AP
Indignação em SP
Manifestantes montaram um mural em apoio àvítima de estupro coletivo; no Brasil, uma mulher é violentada a cada 11 minutos Foto: Gabriela Bilo/Estadão
Indignação em SP
As mensagens de indignação e solidariedade foramexpostas no Masp, em São Paulo Foto: Gabriela Bilo/Estadão
Indignação em SP
O caso aconteceu no último fim de semana no Rio de Janeiro, mas só veio à tona na quarta-feira Foto: Gabriela Bilo/Estadão
Indignação em SP
A vítima, uma adolescente de 16 anos, foi estuprada por 33 homens Foto: Gabriela Bilo/Estadão
Indignação em SP
Dois dos agressores postaram um vídeo da jovem desacordada e nua nas redes sociais Foto: Gabriela Bilo/Estadão
Indignação em SP
Por meio das postagens, a polícia já começou a identificar outros participantes do crime Foto: Gabriela Bilo/Estadão
Indignação em SP
O caso teve repercussão internacional e gerou revolta nas redes sociais Foto: Gabriela Bilo/Estadão
Indignação em SP
A jovem presta depoimento em uma delegacia especializada no Rio para esclarecer detalhes do crime Foto: Gabriela Bilo/Estadão
A frequência de casos de violência sexual refletem, para Maria Gabriela, “um aspecto cultural de dominação”, mais do que um simples desejo do homem. “Que esse inconformismo sirva para unir a sociedade em busca de medidas eficazes contra os crimes”, disse.