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O Fórum de CEOs chegou em boa hora

O aumento da capacidade de consumo de milhões de brasileiros e a crise financeira de 2008 tornaram o Brasil ainda mais atraente para os produtos americanos

Por Fernando Pimentel
Atualização:

Há pouco mais de três anos ocorria a primeira reunião do Fórum de CEOs Brasil-Estados Unidos, em Brasília. Sob a perspectiva da centenária relação diplomática e comercial entre os dois países, uma iniciativa tão recente de aproximação entre representantes de grandes empresas poderia parecer tardia. Mas os resultados obtidos e o caráter promissor dos debates realizados nesse Fórum justificam plenamente sua formação em 2007, com a participação efetiva da então ministra e hoje presidenta do Brasil, Dilma Rousseff. A data coincide com a aceleração do movimento de internacionalização das grandes companhias brasileiras e do processo de mobilidade social, ambos proporcionados por uma década e meia de estabilidade econômica. Entre 2003 e 2010, as empresas nacionais anunciaram investimentos de US$ 2,5 bilhões nos EUA. Ao final de 2008, as subsidiárias americanas de empresas pertencentes a brasileiros já empregavam 42 mil pessoas. Aqui, o aumento da capacidade de consumo de milhões de brasileiros e a crise financeira de 2008 tornaram o Brasil ainda mais atraente para os produtos americanos. Para se ter uma ideia do crescimento desse mercado, em 2010 as exportações de produtos "made in USA" para o Brasil aumentaram 35%. O Fórum surgiu, portanto, no momento em que a dependência do Brasil em relação aos Estados Unidos começava a diminuir - não se leia aqui que alcançamos ou estamos próximos do equilíbrio. Mas é fato que o poder de negociação do Brasil, sua capacidade de influenciar nas decisões, é proporcional ao aumento de sua importância para o crescimento das empresas americanas. Por essas razões, o Fórum tem importância efetiva. Mais do que teria quando o Brasil era simplesmente um grande vendedor de produtos para os EUA ou dependia de recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI). A missão do grupo é propor ações aos governos que fortaleçam as relações bilaterais. O governo brasileiro reconhece, por exemplo, os esforços dos CEOs em defender uma solução favorável aos dois países no "Contencioso do Algodão". Esse objetivo foi alcançado com o acordo assinado em junho de 2010. Também esteve na pauta a facilitação na concessão de vistos de turismo e trabalho. Sem desconhecer tratativas anteriores à criação do Fórum, a validade dos vistos passou de cinco para dez anos. Agora, deve constar da pauta dos CEOs a parceria entre o Eximbank e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar projetos comuns em terceiros países - notadamente na África - e ações na área de educação e qualificação profissional que permitam a troca de conhecimento tecnológico e o acesso de brasileiros às boas universidades americanas. Deve-se manter a busca de um acordo sobre a troca de informações tributárias, o primeiro passo na construção do tratado para o fim da dupla tributação. A harmonização da legislação tributária dos dois países é difícil, mas tem de ser perseguida com a mesma determinação com que se buscou o acordo previdenciário em vias de ser assinado. Por ele, americanos e brasileiros que tenham contribuído com a Previdência do país estrangeiro poderão contar com essa contribuição no momento em que decidirem se aposentar. Nesse caso, as quantias recolhidas serão remetidos para o caixa do sistema previdenciário que pagará o benefício. O momento desta sexta reunião é estimulante. O superávit americano no comércio bilateral (US$ 7,7 bilhões em 2010) precisa ser enfrentado. Para revertê-lo temos desafios internos, mas não pode escapar aos CEOs a discussão sobre as barreiras ao acesso de produtos brasileiros ao mercado americano pela aplicação de direitos antidumping, tarifas elevadas, restrições fitossanitárias e subsídios ao setor agrícola, entre outras. O Fórum tão recente, mas que já tem tantos créditos, há de continuar trabalhando com as autoridades do Brasil e dos EUA em favor da prosperidade de dois parceiros históricos. MINISTRO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. FOI PREFEITO DE BELO HORIZONTE (2003-2008)

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