PUBLICIDADE

O sonho do professor Palmieri

Por Luiz Gonzaga Bertelli
Atualização:

Na manhã de 28 de julho de 95, com 72 anos de idade, Victório D’Achille Palmieri viria a falecer, após 31 anos de intensa dedicação ao CIEE, entidade filantrópica e de assistência social, que ajudara a criar, promovendo a efetiva integração dos mundos dos saber e do fazer.

PUBLICIDADE

Filósofo, mestre, estudioso dos problemas contemporâneos da Nação, na sua profícua trajetória profissional, Palmieri fora pioneiro na organização do primeiro curso de administração de empresas do Brasil, na Escola Superior de Administração de Negócios (ESAN), à época agregada à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Convivera, intensamente, com os membros da Companhia de Jesus e servidores dos ensinamentos de Santo Inácio de Loiola.

Nesse relacionamento, descobriu a sua vocação para o magistério e educação, entregando-se à esta tarefa. O que sempre causava admiração no tocante às virtudes do professor Palmieri eram a sua humildade e prudência em todas as coisas. Como escrevera Cervantes, a humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes e sem ela não há nenhuma que o seja. Costumava dizer que é bom ser subalterno, eis que as posições mais ínfimas são as mais seguras.

Era dedicado discípulo do sacerdote Jesuíta, Roberto Saboia de Medeiros e, durante uma década, dirigiu a Escola de Administração de Negócios, hoje Escola Superior de Administração de Negócios (ESAN), que mantém excelente qualidade de ensino.

Acometido de uma trombose, retira-se do mencionado educandário, passando a dedicar-se à sua recuperação física.

Continuava, não obstante, voltado à propagação do seu apostolado educacional, proferindo palestras e a escrever os seus artigos, no tocante à gestão das empresas, extremamente preocupado com inúmeros setores da economia brasileira e com os destinos da educação. No caso, se ela deveria ser um centro essencialmente formador de mão de obra especializada.

Publicidade

Não cansava de repetir que as empresas e órgãos públicos necessitavam de pessoal habilitado e capaz em todos os setores, com especial ênfase à área administrativa que é, por sua vez, o cérebro e a alma da organização.

Proclamava, em 1956, que a então crise do crescimento brasileiro não era outra coisa senão uma crise ética, de homens, de moral e de métodos. Parece-nos que já vaticinava a atual conjuntura, que vivemos, atualmente, em nossa Nação.

A sua insatisfação maior, porém, era com a realidade brasileira, que ele desejava que fosse corrigida. Propugnava, então, a modernização do aparelho administrativo governamental, obsoleto e emperrado, ao lado de uma profunda reforma de mentalidade dos nossos empresários. Um dos sonhos do filósofo e humanista, Palmieri, o da criação do CIEE, suscitara o envolvimento de homens de ação, intelectuais, educadores e empresários, que se puseram à obra para realizá-la.

Desta forma, no final do ano de 1963, preocupados com as deficiências educacionais e a falta de adequada preparação da juventude para os desafios do mercado de trabalho, resolveram fundar a ambicionada organização.

PUBLICIDADE

Joaquim Nabuco já declarava, em 1910, que a boa educação da juventude deveria ser feita nas fábricas, nas lojas, nos hospitais, nos bancos, nos cartórios e na agricultura. Seria um aprendizado muito mais proveitoso do que a monotonia das lições teóricas. Mais tarde, o jovem escolheria a sua carreira, já sabendo o que esperar de cada uma das profissões.

Foi quando os fundadores do CIEE, em 20 de fevereiro de 1964, lembraram-se da excepcional figura e dos ensinamentos do professor Victório D’Achille Palmieri. Ele era, indubitavelmente, o depositário de todas as virtudes e qualidades necessárias à estruturação do CIEE. Palmieri era homem de tempera, de caráter, obstinado, muito humilde, simples e piedoso. Quantas vezes renunciou às coisas materiais, seus honorários e benefícios em prol do CIEE, a fim de que a obra, por ele idealizada, propagasse.

O sonho de Palmieri teria algo de profético. Cinco décadas mais tarde, em 2014, para impedir que milhões de jovens brasileiros fiquem à margem do mercado, a utilização do treinamento, na forma do estágio e aprendizado, ganha importância redobrada.

Publicidade

Qualificar o jovem, aliás, é o verbo que deveria guiar qualquer plano de ação governamental, para o aprimoramento do ensino brasileiro, desde o básico ao superior.

Hoje, a figura do estudante estagiário e do aprendiz é tão importante para a adequada preparação de talentos e futuros profissionais que o governo concede isenção tributária no recolhimento dos encargos sociais e trabalhistas, como forma de estimular a inserção de estudantes.

É preciso, desta forma, transformar a educação brasileira em absoluta prioridade nacional, como aspirava Palmieri, engrossando o coro daqueles que conhecem o poder transformador do conhecimento.

O que o Brasil mais precisa, nos dias atuais, são profissionais mais qualificados, não só para ganhar competitividade na economia global, como também para sustentar o ritmo do crescimento econômico.

Cria-se, assim, um círculo vicioso de desenvolvimento, geração de empregos, aumento de empregabilidade e da mobilidade social, que retroalimenta os motores da economia.

Ao completar 50 anos de serviços gratuitos à juventude brasileira, o CIEE colabora, fortemente, para a formação dos jovens, tanto que já encaminhou mais de 13 milhões de estudantes para o treinamento operacional e prático, com a concessão de bolsas-auxílio.

São comportamentos como esses, que podem, efetivamente, fazer o Brasil crescer com qualidade.

Publicidade

Por trás desse processo de formação e aprendizagem, existe um cunho social relevante, pois essa conduta tira o jovem das ruas, do ócio, do crime, da prostituição, da marginalidade e das más companhias. Coloca-os no caminho da realização profissional, na rota do trabalho e, por consequência, da dignidade humana.

O sonho do professor Palmieri realizou-se! *Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do CIEE /CONTEÚDO DE RESPONSABILIDADE DO CENTRO DE INTEGRAÇÃO EMPRESA-ESCOLA

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.