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Os hackers que habilitaram o iPhone no Brasil

Estudantes paulistanos descobrem como driblar chip que não funciona fora dos EUA e ganham fama e dinheiro

Por Valéria França
Atualização:

Eles não ganharam na loteria nem muito menos receberam uma herança, mas mudaram de vida em apenas duas semanas. Breno MacMasi, de 24 anos, e Paulo Stool, de 20, tinham uma típica rotina de estudantes paulistanos. Moravam com os pais, estavam sempre duros, mas faziam bicos, que garantiam a balada. Em duas semanas, os dois ganharam o que muita gente não consegue numa vida inteira: fama, prestígio e dinheiro. O sucesso veio de maneira pouco comum. MacMasi e Stool fizeram um celular programado para funcionar nos Estados Unidos operar em São Paulo. Pode parecer pouco, mas não é. Primeiro, porque a dupla não habilitou um celular qualquer, mas um modelo que teve um dos lançamentos mais aguardados pelos aficionados das novidades tecnológicas. O iPhone é a aposta da Apple que reúne celular, iPod (mp3), câmera digital e internet. O aparelho virou objeto de desejo e também de status dos brasileiros modernos e antenados. Publicitários, empresários e até jogadores de futebol foram contaminados pela febre do celular. No Orkut, mil comunidades foram abertas. "Eu quero um iPhone", "Dou meus dois rins por um iPhone" e "Tenho que ter um iPhone" são alguns dos títulos mais comuns. Filho do empresário Paulo Velloso, um dos proprietários da Companhia Melhoramentos, o músico Mário Velloso, de 26 anos, foi para Nova York em junho para o lançamento do aparelho. "Queria muito o celular e sabia que logo ele estaria habilitado para funcionar aqui", diz Velloso, que se considera um geek , um aficionado por tecnologia e programação acima do normal. Um hacker amigo de Velloso, indicou a dupla. "Fui o primeiro a desbloquear o telefone", conta Velloso. Outros famosos fizeram o mesmo caminho, caso dos empresários Roberto Justus e Álvaro Garnero. MacMasi e Stool levam três horas para desbloquear os aparelhos, que, com as alterações, passam a funcionar com o chip de qualquer celular GSM, seja Tim, Vivo ou Claro. Cobram R$ 600 pelo serviço (o celular custa U$S 399, nos EUA). A fila de famosos que batem à porta dos hackers é tamanha que os dois largaram a faculdade e passaram a virar noites para dar conta das inúmeras encomendas. O iPhone tem o uso restrito à rede da operadora de telefonia celular americana AT&T. Ele só faz chamadas se for habilitado na operadora, graças ao seu chip, que em princípio não funciona fora dos EUA. A restrição foi um desafio aos hackers. "Quebrar regras e descobrir a vulnerabilidade de um sistema é uma aventura tão grande como escalar o Everest", diz Routo Terada , professor de Computação da Universidade de São Paulo. "Na universidade, o assunto é o desbloqueio do iPhone." O estudante americano George Holtz, de apenas 17 anos, foi o primeiro hacker do mundo a desbloquear o aparelho. Ele colocou na rede um passo-a-passo do processo. Vários fóruns foram criados e hackers do mundo todo, inclusive os brasileiros Stool e MacMasi, começaram a trocar experiências. Depois de muito papo, os dois arriscaram a primeira operação, que levou dez horas. Abriram a tampa preta do aparelho, tiraram os parafusos e com uma lupa e duas agulhas começaram a intervenção. "Tivemos que adaptar o método Holtz. Teve muita gente que explodiu o celular ", conta MacMasi, que estudava Ciência da Computação e se encarrega da parte mais mecânica do desbloqueio. Ex-estudante de Meteorologia, Stool é o entendido em software. "Aos oito anos, era só minha mãe sair de casa que eu desmontava o computador", diz Stool. CARRO NOVO A dupla colocou no YouTube (http://www.youtube.com/watch?v=V5eL7tAIM9o) o vídeo com o iPhone funcionando com o chip de uma operadora nacional. Os clientes se multiplicaram. Em média, são cinco clientes por dia. Em duas semanas, MacMasi trocou seu Corsa velho pelo novo Punto de teto solar transparente. Os dois foram chamados para trabalhar na incubação de softwares numa empresa de sites. Chefiam hoje uma equipe que ocupa o andar inteiro de um prédio nos Jardins, bairro nobre da zona sul. Outros hackers começaram a fazer a mesma coisa. "Na Santa Ifigênia (no centro), vende software de desbloqueio do iPhone por R$ 20", diz Mrl, ex-hacker, de 35 anos, que conseguiu desbloquear o próprio aparelho. "Mas não é seguro e pode acabar com o celular." A dupla de garotos prodígios pode ter problemas com a Justiça, caso a Apple resolva reclamar. Segundo a Lei 9.609, de 1998, alterar um software e cobrar por isso é crime. MacMasi e Stool também podem dar sorte e serem chamados para trabalhar na empresa, como ocorre com muitos hackers nos Estados Unidos.

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