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Pagot ''não vai apontar o dedo'' a ninguém, garante Blairo Maggi

Senador do PR, aliado de secretário demitido, avisa a Paulo Bernardo que sua fala hoje, no Senado, não trará sobressaltos

Por Christiane Samarco , Eduardo Bresciani e BRASÍLIA
Atualização:

O depoimento do diretor afastado do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transporte (Dnit), Luiz Antonio Pagot, aguardado desde a semana passada no Senado como uma espécie de exibição de um "homem-bomba" do governo, não deve provocar sobressaltos. Foi o que seu padrinho político e senador Blairo Maggi (PR-MT) afirmou em telefonema ao ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, a quem adiantou que Pagot "não vai apontar o dedo" a ninguém, hoje, para se defender das denúncias de um suposto esquema de corrupção no Ministério dos Transportes. A garantia dada no telefonema só foi possível por conta da operação política que o próprio Blairo conduziu para acalmar o antigo auxiliar, com quem trabalhou no grupo AMaggi nos dois períodos em que esteve à frente do governo do Mato Grosso. Depois da solidariedade aos protestos iniciais de Pagot, o senador o chamou para dizer que era hora de se calar e costurar uma "saída honrosa". Nas conversas dos dois em Rondonópolis (MT), no fim de semana, foi levantada até a possibilidade de Pagot ficar no cargo provisoriamente por mais uns meses, como forma de "resgatar sua dignidade". De acordo com um interlocutor do Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff está "tranquila e decidida a fazer mudanças profundas no Dnit". Um ministro que acompanha de perto o desenrolar da crise nos Transportes também confirma que Dilma "fará uma limpa" na pasta e que, além de mudar pessoas, vai mudar "os métodos" para evitar novas denúncias de corrupção e dar mais eficiência ao setor. "Seja qual for a reação do PR, ela não vai recuar", afirma o ministro. Telefonema. De volta a Brasília ontem, Blairo telefonou para a presidente para comunicar oficialmente sua recusa ao convite para assumir o Ministério dos Transportes, no lugar do presidente do PR e senador Alfredo Nascimento (AM), que pediu demissão na segunda-feira passada após denúncias de um suposto esquema de superfaturamento em obras envolvendo servidores da pasta. Além de explicar as razões pessoais e empresariais que o impediam de aceitar a missão, deixou claro que não vai mais indicar ninguém para o governo. "Nem para o ministério, nem para o Dnit, porque se dá problema eu é que pago", afirmou. Depois, o senador repetiu aos jornalistas o que já havia dito a Paulo Bernardo. "Ele não é um homem-bomba. Vai prestar contas e explicar tecnicamente como funcionava o Dnit, mostrando que lá existe um colegiado, que toma as decisões."Segundo Blairo, Pagot também vai deixar claro que o Dnit não formula políticas e sim, as executa, de acordo com as orientações do governo. Na semana passada, no entanto, Pagot citara o nome do ex-ministro de Planejamento em outro contexto. Revoltado com a demissão sob acusações de corrupção sem aviso prévio e sem direito à defesa, ele fez um desabafo com senadores do PR. Falou que Bernardo recebia empreiteiras e mencionou até uma rodovia do Paraná, que teria sido inicialmente orçada em R$ 140 milhões e o preço final acabou reajustado para R$ 400 milhões, por conta dos aditivos aprovados pelo governo. O diretor afastado também procurou dividir responsabilidades com o PT, puxando para a crise das denúncias de corrupção o petista que comanda a Direção de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, Hideraldo Luiz Caron, que teria sido indicado para o posto pelo atual governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro da Justiça Tarso Genro. "Descortesia". Apesar de ter tomado as dores de Pagot, Blairo confidenciou a correligionários que não encara o episódio como "mágoa ou problema", e sim como uma "descortesia" do governo. "Ele é pragmático demais, é gelado", definiu um amigo do senador, ao explicar que Blairo sente-se à vontade para continuar apoiando o governo. "Mas sem subserviência", lembrou o amigo, citando o voto contrário do senador dado ao projeto do trem bala. Um amigo de Pagot lembrou ontem que ele se dedicou "de corpo e alma à campanha da Dilma". A aposta é que, mesmo provocado, "ele não deve sair do script de não citar nomes e fazer acusações porque é um milico enquadrado e tem juízo".

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