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Palácio da Justiça paulistano passa pela primeira restauração

Reparos de fachada e cobertura vão custar R$ 5 milhões e envolvem tecnologia e artesanato

Por Mônica Cardoso
Atualização:

A fachada de quase um século do Palácio da Justiça de São Paulo passa pelo primeiro restauro. As delicadas esculturas que simbolizam ícones da Justiça e ornamentam a fachada estavam deterioradas. Muitas foram retiradas por apresentar risco de queda e algumas tiveram perda total. Além da ação do tempo, a fachada é agredida pela chuva na capital, carregada de gás carbônico, que provoca uma reação química com o cimento da construção. "É um restauro bastante trabalhoso. Primeiro, identificamos a causa do dano e, em seguida, reproduzimos os elementos artísticos. É uma mistura de tecnologia - há análises em laboratório para identificar a natureza do material - e atividade artesanal, de forma a preservar a riqueza de detalhes dos ornamentos", explica o diretor da Unidade de Restauros da Pires Giovanetti Guardia, o arquiteto Juca Pires. A empresa venceu a licitação de R$ 5 milhões e a revitalização, iniciada em 2007, deve ser concluída em março. Além da fachada externa, de 8.200 m², o projeto inclui o restauro da cobertura de cobre do salão do júri, uma cúpula semelhante à da Catedral da Sé. Tanta cautela se deve ao fato de o prédio ser considerado monumento histórico de valor arquitetônico, tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat). "A reforma deve ser harmônica para manter o projeto inicial", diz Pires. Durante o processo foram encontradas caixas com pisos e azulejos do projeto original, no andar superior do prédio, acompanhadas de notas fiscais. Todo o material utilizado na obra do início do século passado - cimento e peças metálicas de siderurgia - veio da Itália. Para fazer a construção e a pintura, havia imigrantes, em sua maioria italianos e espanhóis, considerados mão-de-obra especializada. De autoria de Ramos de Azevedo, a fachada foi inspirada no Palácio da Justiça de Roma, na Itália. "Quando algum entrave burocrático emperrava o andamento das obras, Ramos de Azevedo continuava com recursos próprios", conta José Renato Nalini, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e autor do livro Palácio da Justiça, em parceria com Ebe Reali. VISITAS A reforma do Palácio pode ser um convite para visitá-lo. Localizado na Praça Clóvis Bevilacqua, quase ao lado da Catedral da Sé, no centro de São Paulo, o edifício é pouco conhecido até pelos paulistanos. Poucos sabem que é possível fazer uma visita monitorada, de segunda a sexta-feira, em horário de expediente. Estudantes e estagiários podem até assistir às sessões de julgamento. No hall de entrada, um imponente e amplo salão, revestido de mármore chiampo, com o piso das escadarias de mármore de Carrara, 16 grandes colunas de granito vermelho dão boas-vindas ao Salão dos Passos Perdidos. "Ele recebeu esse nome poético porque enquanto a pessoa esperava pela decisão da Justiça ficava dando voltas no hall", explica Nalini. No segundo andar, o Salão Nobre é decorado com quatro vitrais, cada um representando uma das virtudes da Justiça: Verdade, Paz, Esperança e Temperança. Foram feitos por Conrado Sergenicht Filho, que também executou os painéis do Teatro Municipal, do Mercado Central e da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Enquanto isso, o plenário do júri é revestido com lambris de madeira de lei, entalhada pelos artesãos do Liceu de Artes e Ofícios, escola de Ramos de Azevedo. O teto é ornamentado com motivos renascentistas e tem no centro uma clarabóia com lustres de bronze e alabastros, pesando cerca de meia tonelada cada um.

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