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Papa afasta d. Odilo e mais 3 cardeais em ato para sanear Banco do Vaticano

Cardeal brasileiro fazia parte do grupo de religiosos encarregado de monitorar atividades de instituição financeira da Santa Sé, alvo de denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro

Por Jamil Chade e correspondente em Genebra - O Estado de S. Paulo
Atualização:

(Atualizada às 23h45)

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GNEBRA - Num ato que marca o início de uma profunda reforma no Banco do Vaticano, o papa Francisco removeu na quarta-feira, 16, da cúpula da instituição financeira quatro cardeais, entre eles o arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer. O pontífice advertiu que, se não conseguir reformar o banco, fechará a instituição, que enfrenta denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro.

Na reforma mais ampla feita pelo papa no Vaticano, um dos pontos centrais será a transformação do Instituto de Obras de Religião - o nome oficial do Banco do Vaticano - em uma entidade que financie de fato apenas essas obras.

D. Odilo fazia parte do grupo de cardeais que atuava para monitorar as atividades do Banco do Vaticano. Considerado um dos fortes candidatos no conclave de 2013, d. Odilo tinha o apoio dos setores mais conservadores do Vaticano e representava certa continuidade em relação ao pontificado de Bento XVI. Durante o conclave, a disputa por votos colocou o grupo de apoio ao brasileiro em oposição aos que defendiam um candidato que representasse uma reforma.

Dias antes de deixar o poder, o papa alemão renovou o mandato do brasileiro e dos demais integrantes do órgão de supervisão por cinco anos - ou seja, d. Odilo foi tirado da função antes do previsto. Entre as atribuições do grupo está justamente a nomeação do presidente do banco. Próximo de cumprir um ano no Vaticano e adotando a austeridade como sua bandeira, Francisco colocou no lugar cardeais vistos como aliados.

Quatro dos cinco cardeais no organismo foram substituídos. Saíram os cardeais Tarcisio Bertone, Telesphore Toppo of Ranchi e Domenico Calcagno, além de Scherer. Restou o francês Jean Louis Tauran. No lugar deste grupo, o papa nomeou o cardeal de Toronto, Thomas C. Collins, o italiano Pietro Parolin, Christoph Schonborn, de Viena, considerado como um reformador, e o cardeal espanhol Santos Abril Castello, amigo do papa.

O cardeal Domenico Calcagno, que chefiava outra ala financeira do Vaticano, também foi removido, depois de juízes italianos passarem a suspeitar de irregularidades. O grupo liderado por Bertone foi alvo de crítica nos últimos anos por não conseguir conter uma série de escândalos financeiros no Banco do Vaticano, que enfrenta suspeitas de lavagem de dinheiro do crime organizado.

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Em julho, dois outros executivos do banco pediram demissão, três dias depois da prisão do monsenhor Nunzio Scarano, contador acusado nos tribunais em Roma de ter contrabandeado 20 milhões em malas entre a Suíça e a Itália, justamente para contas no Banco do Vaticano. Em junho, o papa criou uma comissão para estudar uma reforma na instituição. Pela primeira vez em mais de 100 anos, a entidade publicou um balanço anual de suas contas.

Reformas. Em menos de um ano, o papa deixou o Palácio Apostólico para viver em um apartamento na Santa Sé, trocou a frota de carros do Vaticano, defendeu a humildade entre os padres e deixou claro que o Banco do Vaticano era uma instituição que estava prejudicando a imagem da Igreja.

Nos últimos meses, a instituição fechou centenas de contas e uma empresa estrangeira foi contratada para ajudar a atender normas financeiras internacionais. As ações do papa Francisco começam a ter um impacto, a julgar pelo número de contas fechadas. Em 2011, eram 21 mil correntistas. Hoje, são cerca de 18,9 mil, com um ativo total de 6,3 bilhões. Várias outras devem fechar até o fim do ano. Isso porque a instituição começou a suspeitar de saques em valores elevados feitos por embaixadas como a do Irã, Iraque e Indonésia.

Cerca de 20 países ainda mantém contas no banco. O governo brasileiro já tomou providências e trocou o Banco do Vaticano pelo Banco do Brasil. Por décadas, a embaixada do Brasil para a Santa Sé manteve conta no Banco do Vaticano. Ela não foi fechada, mas reduzida ao mínimo - com um depósito de 100. O pagamento de funcionários, dos gastos de representação e outros custos de operação passaram a ser gerenciados pela agência do Banco do Brasil em Milão.

Nomeado cardeal em 2007 por Bento XVI, agora papa emérito, d. Odilo continua participando de sete organismos da Cúria, após o afastamento da Comissão de Vigilância do IOR.

Procurado ontem para comentar a decisão do papa e o significado de sua demissão do cargo, d. Odilo não foi localizado em São Paulo. O religioso manteve contato com sua assessoria de imprensa, na segunda-feira, mas logo desligou o telefone celular, alegadamente para aproveitar mais os últimos dias de férias, antes das comemorações da festa de São Paulo, dia 25, aniversário de fundação da cidade. / COLABOROU JOSÉ MARIA MAYRINK

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