Papa estende a todos os padres poder de perdoar 'pecado do aborto'

Antes, só bispos eram autorizados a absolver quem realiza o procedimento; para Francisco, interrupção da gravidez 'põe fim a uma vida inocente'

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Por Jamil Chade
Atualização:

O papa Francisco estendeu a todos os padres o poder de perdoar o aborto, algo que apenas bispos poderiam realizar. Em uma carta apostólica divulgada nesta segunda-feira, 21, o pontífice informou sobre sua decisão, reforçando o caráter inclusivo de seu papado. 

O perdão já havia sido autorizado a todos os sacerdotes católicos durante o Ano da Misericórdia, que terminou no domingo. Mas, pela carta, Francisco deixa claro que tal direito vai permanecer como nova realidade de seu papado. De acordo com o texto, o poder de perdoar fica agora “alargado no tempo, não obstante qualquer disposição em contrário”. 

'Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente', diz o papa Francisco Foto: AFP / FILIPPO MONTEFORTE

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Ele insiste que a doutrina não muda. “Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe nenhum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai. Portanto, cada sacerdote faça-se guia, apoio e conforto no acompanhamento dos penitentes neste caminho de especial reconciliação”, escreveu. 

“Para que nenhum obstáculo exista entre o pedido de reconciliação e o perdão de Deus, concedo a partir de agora a todos os sacerdotes, em virtude do seu ministério, a faculdade de absolver a todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto”, declarou Francisco. Pelas regras canônicas, o aborto significa uma excomunhão automática daquele que a realiza. Um perdão poderia vir apenas com uma confissão, ainda assim a determinadas pessoas. 

Já em 2015 Francisco deixou claro que havia encontrado mulheres que sofriam com a decisão de realizar o aborto. Em abril deste ano, em um documento de quase 300 páginas e resultado de três anos de consultas e dois sínodos, o pontífice apontou para o entendimento da Igreja em relação à família. Ainda que mantenha a doutrina, seu texto abre as portas da Igreja e pede que párocos pelo mundo adotem uma postura de flexibilidade para não excluir pessoas da religião. 

Em sua exortação apostólica Amoris Laetitia (em português, A Alegria do Amor), ele também trata do tema do aborto. “Nenhum suposto direito ao próprio corpo pode justificar a decisão de acabar com a vida”, indicou. Ele também não sinalizou nenhuma abertura a tratamentos para fertilidade, apontando que a criação é algo que precisa ser “recebido como um presente”. Em sua avaliação, casais que não podem ter filhos devem adotar.

Conforme o vaticanista John Allen, a nova medida tem “efeito menor em lugares como os Estados Unidos, onde vários bispos já tem autorizado a absolvição d o aborto”. “Mas simbolicamente é gesto de grande alcance para as mulheres.”

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O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Ulrich Steiner, afirmou que a iniciativa do pontífice “recorda a gravidade do aborto e a força extraordinária da misericórdia divina capaz de curar todas as feridas humanas”. Para ele, trata-se de “gesto significativo.”

No México, país com segundo maior número de católicos, a nova determinação também foi saudada. “Assim, as mulheres que vivem o calvário do aborto poderão agora fazer mais facilmente este ato de grande arrependimento e reconciliação con Deus”, disse Hugo Aldemar, porta-voz da Arquidiocese da Cidade do México. Nesse distrito, o aborto pode ser feito, sem nenhum tipo de restrição, nas primeiras 12 semanas de gravidez. 

Mais determinações. Na mesma carta, o papa estende por prazo indefinido a absolvição sacramental dos pecados aos fiéis que frequentam as igrejas oficiadas por sacerdotes da Fraternidade de São Pio X, instituída no Ano Santo. A fraternidade, fundada pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre, é crítica ao Vaticano e se opõe às reformas feitas pelo Concílio Vaticano.

Além disso, como sinal concreto do Ano Santo, o papa Francisco instituiu para toda a Igreja o Dia Mundial dos Pobres, a ser celebrado sempre no mês de novembro. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

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