''Paris Bo-Bo'' atrai compradores

Mas há casos também de brasileiros que aproveitam as facilidades de financiamento para adquirir imóveis

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Por Redação
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Sob condição de anonimato e intermediada por uma corretora, uma brasileira contou ao Estado as razões pelas quais pagou 1,5 milhão - sem entrar em detalhes se de forma legal ou não - por um apartamento no 7º distrito da capital francesa. "Adoro Paris e procurava a segurança, a qualidade de vida, a cultura, a moda. Tudo é muito atraente. E há vôos diretos para o Brasil, o fuso (entre três e cinco horas, dependendo da época do ano) é razoável e os preços dos imóveis são acessíveis", explica. A descrição da cidade feita pela brasileira combina com uma expressão bem francesa: "Paris Bo-Bo", ou seja, a cidade da "burguesia fashion", dos restaurantes, museus, lojas de grifes. Mas não apenas Raí, Ronaldinhos, modelos e executivos investem na França. Há outro perfil de brasileiro que também vem registrando seus nomes nos cartórios de imóveis. São, em essência, gente radicada em Paris há décadas e, com base em um bom tino de negócios, aproveitou o crédito fácil da bolha imobiliária para investir, num período pré-crise econômica. Ivaldo Ferreira, doutor em Física Médica e morador da capital há mais de 15 anos, é um deles. Há dois anos e meio, comprou seu segundo apartamento na cidade. O quarto e sala de 24 metros quadrados, situado no 18º distrito - um dos dois mais baratos da cidade -, custou 113 mil, 100% financiado em dez anos, com prestações de 1.150. "Foi fácil", diz, lembrado dos juros baixos. "Agora, por meio de um banco italiano, alugo o tempo todo para turistas por 340 por semana." O negócio deu tão certo que há um ano e meio Ivaldo comprou um terceiro apartamento. Dessa vez, um de dois quartos, com 74 metros quadrados, situado no 13º distrito, custou 320 mil. Mais uma vez, foi 100% financiado, em 15 anos, com prestações de 2,3 mil. "Eu alugo por 1,6 mil", conta o goiano. "Comprava apartamentos velhinhos e gastava uns 15 mil na reforma e nos documentos. A aplicação em imóveis estava boa. Agora, com a crise, não sei como vai ficar." Ivaldo conta ter dois amigos que há pouco investiram em apartamentos. Um deles, afirma, criou sua empresa e, ao longo dos anos, já adquiriu oito em Paris. Outro, que prefere não se identificar, é mais modesto. "Comprei um, mas é do banco", despista. "Era difícil, mas com a crise agora está impossível para estrangeiros." Apesar desses exemplos, não se pode dizer que haja uma explosão demográfica de brasileiros em Paris, muito menos que estejam comprando o Quartier Latin inteiro. "Vendi um apartamento há algumas semanas para uma modelo brasileira que passa grande parte do ano em Paris. Mas ainda são casos bastante pontuais", explica Guilherme Ribeiro, diretor de Seminovos da imobiliária Fernandez Mera, de São Paulo. De acordo com Alain David, responsável pela Base de Informações Econômicas da Câmara dos Notários de Paris e Île de France, entre 2000 e este ano foram registrados em nome de brasileiros 225 imóveis. "Desse total, 122 estão localizados em Paris", detalha. "E o 7º distrito da cidade (onde fica o Museu Hotel dos Inválidos) concentra as vendas."

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