"Perdi", disse Elias Maluco ao ser preso

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Por Agencia Estado
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?Perdi, chefia. Não me esculacha, não?, disse o traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, 36 anos, ao ser preso às 8h45 de hoje, 3 meses e 17 dias após o assassinato do repórter Tim Lopes. No terceiro dia da operação da Polícia Civil que mobilizou cerca de mil homens no cerco ao criminoso e a uma semana do fim do prazo dado pela Secretaria da Segurança Pública, ele foi encontrado no segundo andar de uma casa de alvenaria em um beco que dá acesso à favela da Grota (zona norte), a apenas 400 metros da base de operações da polícia no local. Agora, dos nove denunciados pelo assassinato do repórter, sete estão presos, um morreu em suposto confronto com policiais e outro teria se suicidado, segundo laudo pericial Sem resistência Dos três inspetores da Divisão de Capturas-Oeste da Polinter que entraram na casa, dois têm apenas cinco meses de profissão. Elias Maluco estava desarmado, sem camisa, de bermudas, descalço e não resistiu à prisão. O inspetor João Carlos Couto, 45, disse que viu o traficante por meio de uma fresta, atrás de uma porta, no segundo andar. ?Ele estava escondido atrás da porta e disse que estava desarmado. Quando entrei, ele se entregou, implorando para não ser esculachado.? Os donos da casa ? um homem de 70 anos e a esposa, com deficiência visual ? permitiram a entrada dos policiais para a revista e ficaram apavorados com a possibilidade de serem envolvidos no episódio. ?Eles ficaram pedindo desculpas ao Elias Maluco e disseram que não tinham denunciado ele?, disse o inspetor André Coppola, de 30 anos. Segundo os policiais, a mulher passou mal. ?A gente sabe que se eles não tivessem permitido a entrada do Elias, teriam morrido. Ele ficava trocando de casa a todo momento?, disse. Outro homem foi preso na mesma operação, mas a polícia ainda não sabia se ele tinha alguma ligação com o traficante até o fim da tarde. De acordo com o coordenador das delegacias especializadas, Fernando Moraes, o traficante vinha se escondendo em um esconderijo no alto do morro até o início da tarde de quarta-feira, quando conseguiu se esconder até casa onde foi preso. Gritos e promoção A polícia chegou até a casa onde estava Elias por meio de denúncia feita por moradores da favela. Todos os policiais que participavam do cerco ao criminoso festejaram a prisão com gritos, palmas e cumprimentos. Até policiais militares que não estavam na operação aplaudiram os colegas. A governadora Benedita da Silva (PT) prometeu promover ?por bravura? a equipe que prendeu o traficante e elogiou os policiais pelo rádio. O chefe de Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, disse que a prisão de dois homens que levavam comida, roupas e informações para Elias, no dia anterior, foi essencial para localizar o esconderijo. Ele afirmou que o fato de a polícia estar impossibilitada de rastrear ligações feitas por Elias Maluco por meio de aparelhos Nextel, mesmo com autorização judicial, atrasou a prisão do criminoso. Ele criticou a operadora por criar um ?sistema inviolável que favorece criminosos?. O Disque-Denúncia recebeu, desde a morte de Lopes, 2.440 ligações com informações sobre a localização do traficante. ?Só fico triste por ele não ter resistido?, disse a chefe do Setor de Investigações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), Marina Maggessi. "Zé Ruela do tráfico" Para o delegado Fernando Moraes, Elias Maluco é um ?Zé Ruela do tráfico?. ?Ele nunca foi nada, sempre foi soldado, bandido do terceiro escalão. Aí matou Tim Lopes e ganhou expressão.? O ambiente de comoção que cercou a prisão de Elias Maluco envolveu alguns dos jornalistas que cobriram a apresentação do traficante, na sede da Polícia Civil, após uma entrevista coletiva marcada por empurra-empurra entre cinegrafistas e fotógrafos e berros de assessores de imprensa e policiais. Quando o traficante foi trazido ao Salão Azul pela segunda vez para ser fotografado, alguns profissionais de imprensa externaram revolta: ?Levanta a cabeça, covarde!?, gritou um fotógrafo. ?Você não é homem? Não é valente??, berrou uma jornalista. O traficante continuou calado e chegou a virar de costas, para evitar ser fotografado. Os jornalistas continuaram a provocá-lo. ?Safado!,?, gritou alguém. De cabeça baixa, curvado, Elias nada dizia. Estava algemado com as mãos atrás das costas, escoltado por dois policiais armados. Atrás, num cartaz, estava escrito, à mão: ?Aqui está o Elias Maluco! Polícia Civil-RJ?. Na saída do comboio que levou Elias ao Fórum, houve aplausos. Depois, foi levado para o Batalhão de Choque da PM, onde está preso o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. A família de Tim lopes não retornou as ligações da reportagem.

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