Pesquisa mostra que 6 em 10 brasileiros acham que “bandido bom é bandido morto”

Análise do Fórum Brasileiro de Segurança questionou a população sobre assuntos de violência e segurança; Diretor pediu mobilização pública sobre o tema

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Por Marco Antônio Carvalho
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SÃO PAULO - Seis em cada dez brasileiros disseram concordar com o teor da frase “bandido bom é bandido morto”, segundo pesquisa Datafolha feita a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgada nesta quarta-feira, 2. O estudo analisou a percepção popular sobre temas na área da violência e entrevistou 3.625 pessoas em 217 cidades de todas as regiões do País entre 1 e 5 de agosto.

Para o diretor-presidente do Fórum, Renato Sérgio de Lima, a aceitação da prática contra "bandidos" representa um “pedido de socorro”. Foto: JB Neto/Estadão

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A crença na sentença é maior entre os mais velhos. Entre entrevistados de 60 anos ou mais, a concordância subiu para 61%, enquanto que entre mais jovens, de 16 a 24, a frase é verdadeira para 54%. Entre regiões do País, o comportamento se manteve relativamente homogêneo, com pequenas variações. É no Norte e no Sul que o porcentual é maior: 61%; no Sudeste, ele é de 53%, no Centro-oeste, de 59%, e no Nordeste, de 60%. Diante da frase, 34% no País disseram discordar e 6% não discordaram nem concordaram. 

A receptividade à frase varia, porém, de acordo com o tamanho do município. Nos com até 50 mil habitantes, a concordância é de 62%, enquanto nos que têm mais de 500 mil o porcentual é de 55%. De acordo com dados do Fórum, o País teve 58.383 mortes violentas intencionais em 2015, número similar ao de 2014, e que coloca o País em um patamar crítico de violência.

Para o diretor-presidente do Fórum, Renato Sérgio de Lima, a aceitação da prática contra "bandidos" representa um “pedido de socorro”. “Os números mostram que a população reconhece que as condições de trabalho da polícia não são boas, há dificuldades, mas aí também há uma informação muito relevante: parcela significativa adere à máxima de bandido bom é bandido morto, quase como um pedido de socorro em relação à violência do país, mas uma parcela ainda maior diz que a polícia se excede no uso da violência”, disse.

Para ele, “o Brasil sempre teve a violência como uma linguagem corrente”. “Nunca fomos uma sociedade pacífica, nunca valorizamos a vida, sempre foi banalizado. O número revela que de um lado o Estado, não só a polícia, precisa ser mais inteligente, mais eficiente”, disse.

Lima pede por uma mobilização sobre o tema. “Precisamos de uma mobilização da sensibilização da opinião pública. O Brasil precisa entrar no século XXI em um modelo de desenvolvimento mais sustentável, pacífico e parece que isso ainda é desafio para a gente. Os números revelam uma população marcada pela violência como linguagem”.

Violência policial. A pesquisa fez perguntas sobre a sensação de segurança da população, para a qual recebeu como resposta que, por exemplo, 76% tem medo de morrer assassinado e 64% acreditam que policiais são caçados pelo crime. 

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Por outro lado, 70% disseram acreditar que a polícia exagera na violência - porcentual que sobe para 75% entre jovens de 15 a 24 anos - e 59% tem medo de ser vítima de violência por parte da Polícia Militar; outros 53% demonstraram o mesmo sentimento de receio quanto a Polícia Civil. 

Sobre as condições de trabalho, 63% demonstraram discordância sobre a classificação de que as estruturas seriam boas.

Dados do 10º Anuário do Fórum, mostraram que 3.345 pessoas foram mortas em decorrência de intervenção policial no ano passado, crescimento de 6,3% em comparação a 2014.  “Isso mostra que o Estado brasileiro tem incidido no uso da força letal de forma excessiva, as polícias matam muito, tanto em serviço, quanto fora. Na prática, isso mostra que se tem delegado às polícias brasileiras a decisão de quem deve morrer e quem deve viver na ponta do sistema. Uma pena de morte travestida” , disse na semana passada a diretora executiva da entidade, a pesquisadora Samira Bueno. 

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