BRASÍLIA - Um pico de consumo de energia pode ter sido o responsável pelo blecaute que atingiu vários Estados do País na tarde desta segunda-feira, 19. No Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) circulam informações de que houve demanda excessiva por energia por volta das 15 horas.
O ONS determinou que diversas distribuidoras de energia, com operações nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, reduzissem a oferta de energia durante uma parte da tarde desta segunda-feira, 19. Foram relatados problemas de falta de luz por usuários de redes sociais de oito Estados - São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Rio Grande do Sul -, além do Distrito Federal.
A decisão do ONS de determinar a redução de energia a diversas distribuidoras foi uma resposta ao excesso de consumo. Esses picos costumam ocorrer entre as 14 e 15 horas, com o acionamento conjunto de equipamentos como ar-condicionado, que puxam muita energia da rede.
"A decisão de aliviar a carga nessas regiões ocorre para preservar o sistema elétrico como um todo e evitar um problema ainda maior", analisa o especialista Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc, gestora independente de energia elétrica.
Com o pico de consumo de energia, a frequência do sistema começou a oscilar, o que tornou a rede instável e ocasionou o desligamento da usina de Angra 1. Com a saída de Angra 1 do sistema, a demanda por energia poderia crescer ainda mais e superar a geração, o que levaria a um blecaute generalizado em diversos Estados do País.
Para evitar que isso ocorresse, o ONS mandou as distribuidoras de energia cortarem a carga imediatamente. Ao cortar a carga, sem que o sistema caia, o fornecimento de energia pode retornar aos poucos. Foi essa ordem do ONS que gerou o apagão que atingiu as regiões Sul e Sudeste do País.
Com a decisão de preservar ao máximo os reservatórios das hidrelétricas e de utilizar tudo o que for possível da geração de usinas térmicas, o ONS, responsável pela gestão do setor elétrico, reduziu sua capacidade de administrar os picos de consumo por meio do acionamento de energia de outras fontes.
Segundo Vlavianos, com o alívio da carga, o ONS consegue administrar a situação, o que não seria possível caso o volume de demanda ultrapasse a carga disponível no País.
A decisão de realizar esse tipo de operação em grandes centros deve-se ao fato destes serem os maiores consumidores de energia, disse Vlavianos. Caso tomasse a mesma medida na região Norte, por exemplo, o efeito sobre todo o sistema seria marginal.
O consumo de energia tem batido recordes diários neste mês. No dia 13 de janeiro, a região Sudeste/Centro-Oeste chegou a registrar 51.295 megawatts (MW). No último dia 15, o consumo nacional chegou a 83.790 MW, bem próximo do máximo já registrado, de 85.708, em fevereiro do ano passado.
"Estamos com o pior nível de chuvas do ano. As térmicas estão na base despachando tudo. Chega uma hora que a reserva não dá conta. Estamos usando tudo no limite", disse Vlavianos.
A capacidade total de geração do Brasil é de 130 mil MW, mas a energia efetivamente disponível costuma girar em torno de 85 mil MW.