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PMs que estavam em viatura que arrastou mulher no Rio são presos

Baleada em troca de tiros entre policiais e bandidos, na zona norte, Claudia Silva Ferreira, de 38 anos, foi colocada no porta-malas de viatura, mas compartimento abriu e ela ficou presa ao parachoque

Por Marcelo Gomes
Atualização:

Atualizada às 21h30

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RIO - A Polícia Militar do Rio determinou a imediata prisão administrativa de três PMs do 9º Batalhão (Rocha Miranda) que estavam na viatura que arrastou a auxiliar de serviços gerais Claudia Silva Ferreira, de 38 anos, por diversas ruas da zona norte do Rio de Janeiro, na manhã deste domingo, 16. Dois subtenentes e um soldado estão presos. A corporação não divulgou os nomes dos policiais. Também foi instaurado um inquérito policial militar (IPM) para investigar o caso.

Moradora do Morro da Congonha, em Madureira, zona norte, a mulher havia sido baleada momentos antes, durante uma troca de tiros entre PMs e traficantes na favela. Os PMs, então, colocaram Claudia no porta-malas de uma Blazer da corporação para levá-la ao Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, zona norte. No meio do caminho, a porta do compartimento abriu. Desacordada, Claudia caiu de dentro do porta-malas, mas ficou presa ao parachoque da viatura por um pedaço de roupa. Ela foi arrastada por cerca de 250 metros, batendo contra o asfalto. A mulher ficou ainda mais ferida, com o corpo em carne viva.

A cena foi filmada por um cinegrafista amador, na altura da Estrada Intendente Magalhães, por volta das 9h. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, Claudia chegou morta ao hospital. A mulher foi baleada no pescoço e nas costas.

Revoltados com a morte de Claudia, moradores do Morro da Congonha atearam fogo em dois ônibus e apedrejaram uma viatura da PM, na noite de domingo, na Avenida Ministro Edgard Romero, a principal de Madureira. A via já havia sido interditada de manhã pelos moradores.

Em nota, a Polícia Militar informou que "este tipo de conduta não condiz com um dos principais valores da corporação, que é a preservação da vida e dignidade humana". A Polícia Civil também investiga o caso. Além de Claudia, um suspeito de envolvimento com o tráfico também foi baleado na operação. Policiais da 29ª Delegacia de Polícia (Madureira) estiveram na favela e realizaram uma perícia. Dois fuzis utilizados pelos PMs durante a incursão no Morro da Congonha foram apreendidos.

Enterro. Claudia foi enterrada no início da tarde no cemitério de Irajá (zona norte). Cerca de 200 pessoas, entre parentes, vizinhos do Morro da Congonha e colegas da empresa onde ela trabalhava, acompanharam o cortejo fúnebre. Muito emocionado, o marido de Claudia, o vigia Alexandre Fernandes da Silva, de 41 anos, disse que a mulher "foi tratada como bicho".

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"Nem o pior traficante do mundo deveria ser tratado assim. Claudia havia acabado de sair de casa, por volta das 8h, para comprar pão, quando um grupo de quatro ou cinco policiais entrou na comunidade. Não teve troca de tiros com traficantes, só os PMs atiraram. Se ela tivesse ficado em meio ao fogo cruzado, teria sido atingida pelos dois lados, e não foi isso que aconteceu. Ela era guerreira, determinada, batalhadora, objetiva. Era pau para toda obra. Até a assentar tijolo ela aprendeu para me ajudar com a construção da nossa casa. O jeito agora é ter força para criar nossos quatro filhos", disse o viúvo.

O feirante Carlos Roberto Francisco da Silva foi a primeira pessoa que encontrou Claudia depois de ser baleada. "Eles (os policiais) viram os bandidos correndo e começaram a atirar. Cheguei a avisar para terem cuidado porque havia vários moradores na rua. Escutei os tiros e, quando fui ver, minha comadre (Claudia) já estava caída no chão", contou Silva.

A filha caçula da vítima, de 10 anos, estava em casa quando ouviu os disparos. "Acordei com o barulho e, quando fui ver o que estava acontecendo, vi minha mãe caída no chão. Ela não estava consciente e vi quando os policiais a colocaram na caçamba da viatura", disse a menina.

Mãe de quatro filhos, Claudia Silva Ferreira, de 38 anos, era conhecida como Cacau no Morro da Congonha, em Madureira. Ela também criava quatro sobrinhos. Completaria 20 anos de casada com o vigia Alexandre Fernandes da Silva, de 41 anos, em 20 de setembro deste ano.

A mulher trabalhava desde março de 2011 na Nova Rio Serviços Gerais, como funcionária terceirizada no Hospital Naval Marcílio Dias, no Lins de Vasconcelos, zona norte. Considerada alegre, Claudia era muito querida entre os colegas de trabalho.

"Era uma grande amiga. Sempre de bem com a vida, divertida. Esse caso não pode ficar impune. Queremos justiça", disse Lúcia Helena do Sacramento, de 60 anos.

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