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Política de vale-tudo e voto a R$ 50

Candidatos acusados de coagir e comprar eleitores disputam hoje sucessão de prefeita cassada

Por Bruno Boghossian
Atualização:

Os candidatos a prefeito caminham com pressa ao pedir votos nas ruas de Magé, a 50 km do Rio. Nas passeatas, circulam entre a multidão ao lado de seguranças armados, com mais de 1,90m de altura, e fazem questão de correr para entrar em carros blindados assim que o evento acaba. Ninguém quer ficar exposto por muito tempo, em uma campanha eleitoral marcada por ameaças de morte, coação de funcionários públicos e denúncias de compra de votos. Os 161 mil eleitores do município escolhem hoje o sucessor da ex-prefeita Núbia Cozzolino, cassada por abuso de poder político e econômico na campanha de 2008. Alvo de 28 ações por improbidade administrativa, 334 inquéritos civis e 7 denúncias criminais, ela nega todas as acusações e, mesmo fora do cargo, continuava frequentando a sede da prefeitura às vésperas da eleição de seu sucessor. A cidade foi tomada nos últimos 30 dias por um vale-tudo eleitoral, com faixas espalhadas até nas margens das rodovias e carros de som circulando nas comunidades mais remotas. Com uma política baseada há décadas nos moldes do coronelismo, o preço do voto é quase tabelado: com R$ 50, qualquer candidato pode conseguir uma forcinha para vencer a disputa. Pela primeira vez desde 1982, o nome Cozzolino está fora das urnas do município. A família que comandou Magé em 21 dos últimos 29 anos decidiu não lançar candidato, mas fez campanha aberta para o vereador Werner Saraiva (PT do B), da base governista. Outros cinco candidatos estão na disputa, mas seu principal opositor é Nestor Vidal (PMDB), apoiado pelo governador Sérgio Cabral. Nas ruas, a população evita discutir a política local e responde com desconfiança quando abordada pelos candidatos. As denúncias de coação são tão frequentes que até o Batalhão de Operações Especiais (Bope) foi chamado para garantir a segurança da eleição. Ao todo, serão 720 homens das Polícias Federal, Rodoviária Federal, Civil e Militar, além de três helicópteros. "Magé é um caso peculiar, pois as denúncias extrapolam o âmbito da propaganda irregular. São frequentes os casos de ameaças, uso da máquina pública e compra de votos", explica o juiz eleitoral Orlando Feitosa.Há acusações de que agentes de saúde só estariam atendendo pacientes com título de eleitor e que se comprometiam a votar no candidato apoiado pelos Cozzolino. Outros servidores relataram pressão para fazer campanha para Saraiva. "Disseram que, se eu não colocasse adesivos para o candidato deles no meu carro, não pagariam meu salário", disse uma funcionária. Saraiva nega as acusações e se diz perseguido pela Justiça Eleitoral. "Não tenho ingerência nenhuma sobre os atos da prefeitura e não tenho nada a ver com a família Cozzolino. Eu tenho o apoio deles, mas tenho o apoio de diversas famílias", afirmou o candidato, que só aceitou dar entrevista depois de se afastar 3 km do local em que fazia campanha, na quarta-feira. As denúncias de irregularidade atingem também o candidato de oposição. Na última semana, foram encontrados R$ 29 mil em dinheiro na casa de um suposto cabo eleitoral de Nestor Vidal. O candidato afirmou ser vítima de sabotagem e disse que o homem não é seu correligionário. "Essa eleição pode marcar o fim da chamada "Cozzolândia", mas não deve mudar a estrutura política daquela região", avalia o sociólogo José Cláudio Souza Alves, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. / COLABOROU ALFREDO JUNQUEIRA

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