PUBLICIDADE

''Ponte'' entre PCC e CV, advogada é solta pelo STJ

Por Marcelo Auler
Atualização:

Presa em flagrante em março ao levar recados de membros da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) para o chefe do Comando Vermelho (CV) do Morro do Alemão, do Rio, Marcio Nepomuceno, o Marcinho VP, a advogada carioca Elker Cristina Jorge de Oliveira, de 38 anos, se beneficiou com um habeas corpus dado pela 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ontem, ela deixou o Presídio Talavera Bruce, no Complexo de Bangu. Elker foi flagrada na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, onde estão os líderes do tráfico de drogas do Rio. Pelo vidro do parlatório, ela mostrou a Marcinho VP uma carta, que depois foi rasgada. Os agentes penitenciários recolheram os papéis picados e recuperaram o documento. Era uma carta enviada da penitenciária de segurança máxima de Presidente Venceslau, em São Paulo, onde está a cúpula do PCC. Ela não tinha destinatário específico, nem remetente. Dirigida aos líderes do CV, usava muitas gírias e palavras cifradas. O texto termina com "Paz, justiça e igualdade", "lema" do PCC. A carta fala do rompimento do acordo entre as duas facções, explicando que isso não afeta o respeito dos traficantes paulistas pelos bandidos cariocas. Faz referências a Ronaldo Duarte de Freitas, o Naldinho, que em 2005 foi preso com Edinho, filho de Pelé, acusados de tráfico de drogas. Naldinho está desaparecido desde dezembro. Na interpretação da polícia, é clara a mensagem dos traficantes sobre a morte dele: "Deixamos ciente que este verme já recebeu o que merecia." O taxista que levara a advogada de Foz do Iguaçu ao presídio entregou à polícia uma agenda deixada no carro. Nela, o delegado Mozart Fuccs descobriu anotações sobre o preço de documentos falsos, transações financeiras bilionárias para o exterior, corrupção de agentes de segurança. Ao Estado, ele disse haver "informações que supostamente dizem respeito a pessoas do Rio envolvidas com o tráfico de armas e anotações que informam transferência de valores para o exterior. São pessoas conhecidas e, por cautela, é melhor não divulgar seus nomes". A advogada já esteve em Catanduvas com outros presos. A polícia ainda não sabe se ela também frequentava os presídios de São Paulo ou se recebeu a carta das mãos de terceiros. Ela foi denunciada pelo procurador da República Carlos Henrique Macedo Bara pelo crime de colaborar (com) e ser informante de organização criminosa. "A carta não indica que ela atue reiteradamente como pombo-correio, mas os documentos que foram aprendidos indicam que ela vem atuando como integrante da organização criminosa, pelo menos como colaboradora", explicou Bara. O ministro Nilson Naves, do STJ, entendeu que o mandado de prisão tem carência de fundamentação e não viu na libertação nenhum risco à ordem pública. A 6ª Turma aprovou o habeas corpus por 4 votos a 1.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.