Por que ser policial em São Paulo?

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Por Alexandre Bazzan
Atualização:

A população desconfia deles, o risco de morte é alto, o salário é baixo. Mesmo assim, em 2013 um recorde de 124.439 jovens se inscreveram para ingressar como soldados na Polícia Militar de SP, cerca de 100 candidatos por vaga. Por que o interesse? A polícia parece ser uma maneira de ascensão social para uma faixa de jovens.

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Hugo Handrelles, de 20 anos, entrou em novembro na Escola Superior de Soldados Cel. PM Eduardo Assumpção, em Pirituba. Gasta duas horas para ir de casa para o curso e duas para voltar. Mora com os pais e o irmão de 8 anos. “Eu trabalhava em uma empresa de vidros em Suzano, e nunca tinha ganho tanto. A PM me veste, me alimenta e me disciplina.” Handrelles recebe um soldo de R$ 1.700 durante o curso. O jovem, que sempre trabalhou, diz que o dinheiro é fundamental para ajudar a família. Ele diz que esteve alheio às manifestações. Um amigo participou, mas Handrelles não tem “vontade ou tempo para isso”.

Mais de 70% dos 1.198 aprovados este ano têm entre 21 e 27 anos. Do total de inscritos para a seleção, mais de 60% ganhavam de 1 a 3 salários mínimos. Handrelles diz que é motivo de orgulho na família ele ter conseguido entrar na PM. “É o primeiro degrau e parece pouco, mas nunca fui rico.” Handrelles afirma que seu sonho é participar do pelotão especial de choque, o mesmo que faz correr outros jovens em manifestações. “Eles são responsáveis por manter a ordem”, argumenta.

A pesquisa mais recente do Índice de Confiança na Justiça Brasileira (ICJBrasil), realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), aponta que 70,1% da população não confia na Polícia Militar. Os números parecem justificar o descrédito. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2013, o número de pessoas mortas em ações de policiais militares em serviço estava até agora em 1.840. São ao menos cinco mortos em intervenções policiais todos os dias.

Do lado dos PMs, o risco de morte violenta é três vezes maior que para um cidadão comum. A maior parte desses casos, ao contrário do que o senso comum leva a crer, ocorre fora de serviço.

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