Presídios causam inchaço de cidades em SP

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Por Eduardo Nunomura
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O cartão-postal de Balbinos recebe o nome de Penitenciária Compacta I e II. Fica na via de acesso Arcírio Rigoto, a 1.200 metros do portal do município, no oeste paulista. Se alguém chegar à cidade tem de passar por ela. Para sair, também. Três de cada cinco balbinenses vivem encarcerados numa das duas unidades prisionais. E a minoria que tem liberdade de ir e vir se impõe uma prisão voluntária nos fins de semana. Moradores assustados passam o cadeado nos portões, fecham as janelas e ligam a TV. Nesses dias, só se vêem mulheres de presos nas ruas. A 420 quilômetros de São Paulo, Balbinos teve o maior crescimento populacional de 2000 para cá: 175,6%. Os quatro lugares seguintes são Pracinha, Iaras, Lavínia e Reginópolis. Todos ganharam penitenciárias. Cresceram mais de 50%. O fenômeno se estende por uma dezena de municípios paulistas, muitos deles pequenos como Marabá Paulista, Potim, Iperó e Guareí, os próximos da lista. E o número vai voltar a subir com a construção de mais presídios no interior, como anunciou o governador José Serra. A Contagem 2007 feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) incluiu entre os residentes presos que já haviam sido condenados e cumpriam a pena na cidade. Na prática, fez com que um município como Balbinos saltasse de 1.313 para 3.619 habitantes. A maioria dos presos é da capital, sem vínculos com a região. O que obriga mulheres, as que podem e têm dinheiro, a excursionarem pelo interior. Em muitas das 76 cidades com unidades prisionais há caravanas para os presídios. O inchaço artificial da população provoca tititi, acende a economia municipal, muda hábitos e alimenta o preconceito. Balbinenses natos não gostam das mulheres de presos, à exceção dos que ganham dinheiro com isso. Elas não fazem questão de gostar dos nativos. A maioria está ali de passagem. ''''Fico revoltado, o pessoal antigo está perdendo valor para quem vem de fora'''', protesta o lavrador Antonio Mariano do Prado, de 55 anos. Há poucos dias, perdeu parte do indicador da mão direita. A ferida de um corte de cana apodreceu. Ele tinha consulta marcada numa cidade vizinha, onde tem hospital. ''''Era para eu ir de ambulância, mas preferiram levar a outra turma.'''' Desanimado, diz que iria embora dali se pudesse. Também no oeste paulista está Rosana, onde as pessoas não só querem como vão embora. Deve ser confirmada como a cidade que mais encolheu, embora a prefeitura tenha pedido uma revisão com medo de perder receita. Entre os dois levantamentos, perdeu quase 5 mil habitantes. Ex-capital de barrageiros, os construtores de hidrelétricas, tem renda per capita mediana e elevou a arrecadação para uma dezena de milhões de reais por causa da Companhia Energética de São Paulo. O que a faz ser o oposto de Balbinos? A falta de perspectivas.

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