PUBLICIDADE

Presos em operação da PF serão ouvidos neste sábado

Contudo, advogados dos principais presos já pediram o relaxamento da prisão

Por Agencia Estado
Atualização:

Os presos da Operação Hurricane (Furacão, em inglês), deflagrada pela Polícia Federal do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Distrito Federal, já estão em Brasília, onde prestaram depoimento. Entre os presos há magistrados, bicheiros e até o advogado Virgílio de Oliveira Medina, irmão do ministro Paulo Medina, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Foram cumpridos 70 mandados de busca e apreensão e 25 mandados de prisão. De acordo com o delegado regional executivo da Polícia Federal, Ângelo Gioia, os investigadores responsáveis pela Operação Furacão vão colher os depoimentos. Gioia disse que todos os 25 detidos chegaram a Brasília por volta das 6 horas deste sábado e, até o final da manhã, estavam sendo acomodados nas celas da carceragem da PF. Por falta de espaço nas instalações físicas, a PF foi obrigada a transferir alguns presos que já estavam lá para a penitenciária da Papuda e, com isso, abrir espaço para os novos detidos que chegaram do Rio de Janeiro e da Bahia. Segundo Gioia, não há privilégios aos presos, embora existam juízes e delegados entre eles. Ele relatou que todos serão alimentados com o "mesmo tipo de comida" e têm à disposição um médico de plantão. Os detidos estão divididos em grupos de três a cinco pessoas em cada cela. O delegado contou ainda que a PF comprou novos colchões para os presos já que os que existiam no prédio foram levados para a Papuda. Relaxamento de prisão Os advogados dos principais presos poderão pedir relaxamento da prisão temporária. É o caso de Raul Ornelas, que representa Luiz Paulo Dias de Matos e a única mulher entre os 25 presos na Operação Furacão, Susie Pinheiro Dias de Matos, que trabalha na Agência Nacional de Petróleo (ANP). "São pessoas de boa índole e excelente profissionais", afirmou o advogado. "O fundamento de uma prisão temporária é garantir a coleta de provas, o que já foi feito, não há necessidade de manter a prisão após os depoimentos", completou. Ao chegar ao portão principal da carceragem da PF em Brasília e antes de conversar com os jornalistas, deixou escapar para um assessor a seu lado. "Deixa eu ir logo porque eles estão aflitos". Aos repórteres, ele informou ainda que foi fazer "um atendimento emergencial" aos clientes. "Em princípio, o papel do advogado é garantir os direitos e as garantias individuais das pessoas", afirmou Ornelas. Sobre o mérito das investigações, ele não quis falar alegando que ainda não havia conversado com seus clientes. Advogados reclamam Por causa da demora nas acomodações físicas, os advogados não puderam ter acesso a seus clientes e, alguns desistiram para voltar à tarde. Antes, porém, chegaram a contatar o conselheiro da Comissão de Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Bruno Rodrigues, para reclamar da dificuldade de conversar com os clientes. O delegado Gioia negou que tenha havido cerceamento de direito do contato dos advogados, "porque essa é uma prerrogativa constitucional" e explicou que houve demora na acomodação dos presos, mas que as conversas com os advogados já estão acontecendo. Os advogados do bicheiro Antonio Petrus Kalil, o Turcão, manifestaram preocupação com a saúde do cliente e pediram para levar um médico particular e roupas. O delegado disse que a entrada de uma mala com roupas foi autorizada, mas não o médico. A operação A Operação Hurricane investiga uma suposta organização criminosa que agia na negociação da venda de decisões judiciais. A PF utilizou escutas telefônicas para apurar o esquema que favoreceria a máfia das máquinas caça-níqueis, explorada pelos bicheiros do Rio. Entre os detidos estão dois desembargadores do Tribunal Regional Federal (TRF) do Rio, um juiz do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas, um procurador regional da República no Rio e dois delegados federais. Com eles, foi presa a cúpula do jogo do bicho: Ailton Jorge, o Capitão Guimarães, presidente da Liga das Escolas de Samba; Aniz Abraão David, presidente de honra da escola Beija-Flor, e Antonio Petrus Kalil, o Turcão. "Foi a maior operação contra a corrupção já realizada no País", disse o superintendente da PF no Rio, Delci Teixeira. A operação incluiu ainda buscas nos gabinetes dos desembargadores federais José Eduardo Carreira Alvim e José Ricardo de Figueira Regueira. Carreira Alvim foi detido no seu apartamento, na Barra da Tijuca. Regueira desembarcava da Espanha, no Aeroporto Tom Jobim, quando recebeu voz de prisão. Os dois são citados também numa apuração reservada do STJ, sobre tráfico de influência para concessão de sentenças favoráveis à máfia dos combustíveis adulterados no Rio. Investigações Nas buscas, a PF apreendeu 30 carros de luxo e uma quantidade tão grande de dinheiro que foi usado um carro-forte para o transporte até um banco. A ação envolveu 360 policiais de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná e o efetivo do Comando de Operações Táticas. Eles se deslocaram em aviões da Aeronáutica, ficaram em quartéis e usaram 96 carros alugados pela polícia. A investigação começou há um ano na 6ª Vara Federal do Rio, quando a juíza Ana Paula Vieira de Carvalho autorizou escutas para apurar um suposto esquema de corrupção na PF . Em setembro, o nome do ministro Medina apareceu na investigação, levando o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, a remetê-la para o Supremo Tribunal Federal (STF). O inquérito passou a ser presidido pelo ministro do STF Cézar Peluso, que autorizou escutas inclusive no gabinete de Alvim. O desembargador descobriu os microfones, instalados no forro do teto. Alvim, que disputava a presidência do TRF, acusou na época a direção do tribunal pelos grampos. Na eleição, ele foi derrotado por 15 votos a 9. Os presos - Ailton Guimarães Jorge - bicheiro, conhecido como Capitão Guimarães, é presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro - Ana Claudia Rodrigues do Espírito Santo - Anísio Abrão Davi - bicheiro e presidente de honra da Beija-Flor - Antonio Petrus Kallil - bicheiro, conhecido como Turcão - Carlos Pereira da Silva - delegado da Polícia Federal de Niterói - Delmiro Martins Ferreira - Ernesto da Luz Pinto Dória - juiz do Trabalho do TRT da 15ª Região (Campinas, SP) - Evandro da Fonseca - advogado - Francisco Martins da Silva - Jaime Garcia Dias - advogado - João Sérgio Leal Pereira - procurador da República. Acusado de integrar esquema de fraudes em sentenças judiciais ao lado do desembargador Ivan Athié. Está afastado do cargo. Foi preso na Bahia. - José Eduardo Carreira Alvim - ex-vice-presidente do TRF-2.ª Região, do Rio de Janeiro e Espírito Santo, e desembargador federal - José Luiz Rebello - José Renato Granado Ferreira - empresário - José Ricardo de Figueira Regueira - desembargador federal - Júlio Guimarães Sobreira - Laurentino Freire dos Santos - Licínio Soares Bastos - Luiz Paulo Dias de Mattos - delegado da Polícia Federal - Marcos Antônio dos Santos Bretas - Paulo Roberto Ferreira Lima - Sérgio Luzio Marques de Araújo - advogado e irmão do juiz federal Marcelo Luzio - Silvério Néri Cabral Junior - advogado - Susie Pinheiro Dias de Mattos - delegada da Polícia Federal. Estava licenciada para exercer o cargo de corregedora da Agência Nacional do Petróleo (ANP), com função era combater as fraudes de combustíveis. - Virgílio de Oliveira Medina - advogado. Irmão do ministro do STJ Paulo Medina Mariângela Gallucci, Bruno Lousada, Marcelo Auler e Alexandre Rodrigues

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.