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Produção nacional de soro cai à metade com reforma de institutos

Governo usa estoques reguladores para evitar a falta de material para tratar intoxicação por diversas toxinas e venenos de animais

Por Ligia Formenti
Atualização:

Brasília - O Brasil produz atualmente metade do soro necessário para atender à demanda nacional. Neste mês, o Ministério da Saúde enviou a Estados e municípios 28 mil doses para tratar pacientes intoxicados por venenos de animais e toxinas diversas, além de pessoas infectadas por vírus. É o equivalente a 50% da entrega tradicional.

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Para não haver falta de produtos nos postos de atendimento, o governo há meses usa estoques reguladores e alterou a logística de remessa dos produtos. “A distribuição é feita sob o fio da navalha”, admitiu o diretor de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch. A redução na capacidade produtiva também é constatada nas vacinas, mas ele avalia que a principal preocupação está concentrada nos soros. “Em caso de falta, não há como recorrer ao mercado internacional”, completou.

Soros são usados geralmente em caso de acidentes. Qualquer atraso coloca em risco a vida do paciente. A previsão é de que a situação comece a se normalizar somente no fim do ano. A queda na produção nacional tanto de vacinas quanto de soros é atribuída a uma movimentação dos institutos para adaptar suas fábricas às exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Em caso de falta nos estoques nacionais, não há como importar o soro. Produto geralmente é usado em caso de acidentes e atraso coloca vida do paciente em risco. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Para receber o certificado de boas práticas de fabricação, centros tiveram de fazer ajustes em suas instalações, obrigando os institutos a reduzir ou interromper a produção. Essa onda de reformas ocorreu de forma simultânea. “Com atrasos nas obras de um centro, início de outros, vivemos períodos com vários em reforma”, disse o diretor. Instituto Butantã (SP), Vital Brazil (RJ), Biomanguinhos (RJ) e Funed (MG) precisaram adaptar suas instalações para receber o certificado de boas práticas de fabricação.

Vacinas. Entre as vacinas, as maiores dificuldades foram encontradas na produção de produtos que evitam infecções bacterianas, como a DTP (difteria, tétano e coqueluche), pentavalente (difteria, tétano, coqueluche, HiB e hepatite B) e dupla adulto. Nessa área, no entanto, a situação está mais equilibrada. Mesmo assim, será preciso contar com importação também para 2016.

“Para suprir a falta de soros, no entanto, não há como fazer importações. Soros para combater veneno de animais peçonhentos devem ser feitos com material fabricado no próprio País”, explica Maierovitch. Não há base científica para usar, por exemplo, veneno de cobra de outros países para tratar picadas de cobras brasileiras.

No caso do soro antidiftérico, a pequena produção, feita no Instituto Butantã, deixou de ser distribuída. Todo soro fica concentrado nos estoques do instituto. Quando necessário, o soro é levado de avião para que o fornecimento seja feito ao paciente. O material é usado para tratar casos de suspeita de difteria. A prevenção da doença é feita com vacinas. “Eventualmente, no entanto, casos suspeitos da doença acontecem”, disse Maierovitch. São menos de uma dezena por ano. “Como a doença é grave, o tratamento do soro é indicado.”

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A estratégia da concentração da produção adotada para antidiftéricos não pode ser aplicada em outros casos, como soro antiofídicos ou para outros animais peçonhentos, pois o número de casos de acidentes é maior e está distribuído pelo Brasil. Além disso, o início do tratamento deve ser rápido.

Também são produzidos soros para controlar casos de infecção por toxina botulínica, raiva e tétano. “Alguns soros estão em quantidades mínimas”, disse Maierovitch. Ele garante que até agora nenhum paciente ficou sem vacina ou soros. O diretor do Instituto Butantã, Jorge Kalil, estima que a produção será retomada em sua capacidade máxima no próximo ano. A instituição produz 13 diferentes tipos de soros usados no País. 

Crítica. O presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa, criticou a forma como o processo de adaptação das fábricas foi conduzido. Para ele, a mudança do parque fabril poderia ter sido acertada com prazo e estratégia coordenadas. Enquanto uma planta estivesse em reforma, a produção passaria para outra instituição.

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