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Proibição de aborto em caso de estupro 'não vai passar na Câmara', diz Maia

Projeto para vetar todas as possibilidades de aborto legal no País foi aprovado por comissão e pode ser levado a votação na Câmara

Por Bibiana Borba , Ligia Formenti e Daiane Cardoso
Atualização:
Mulheres fazemprotesto em frente ao Masp, na Avenida Paulista, em defesa da legalização do aborto. Foto: Rafael Arbex/Estadão

Aprovada na Comissão Especial da Câmara dos Deputados, a proposta de proibir o aborto em casos de estupro no Brasil "não vai passar na Câmara", nas palavras do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O deputado deu a declaração em post publicado nesta sexta-feira, 10, em sua página oficial no Facebook. Ainda não há garantia ou data prevista para que o projeto, resultado de pressão da bancada evangélica, seja levado a votação no plenário.

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A proposta foi inserida em uma PEC que já tramitava na Câmara, sobre a ampliação da licença-maternidade em caso de bebês prematuros de 120 para 240 dias. O relator da proposta, Jorge Tadeu Mudalem (DEM-SP), sob pressão dos deputados evangélicos, alterou o texto para incluir também mudanças relacionadas à interrupção da gravidez. 

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O texto aprovado até agora não deixa claro se as hipóteses de aborto hoje permitidas - para casos de estupro, risco à gestante ou anencefalia do feto - passariam a ser proibidas ou punidas. A Constituição seria alterada para que "o princípio da dignidade da pessoa humana e a garantia de inviolabilidade do direito à vida passem a ser respeitados desde a concepção" e não, como é hoje, após o nascimento. 

Grupo pede a descriminalização do aborto no País durante protesto na Praça da Sé, na região central de São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Reação conservadora. A tentativa de deixar as regras para aborto mais rigorosas foram uma resposta à 1.ª Turma do Supremo Tribunal Federal que, em 2016, decidiu não considerar crime a prática do aborto durante o primeiro trimestre de gestação, independentemente da motivação da mulher. 

A comissão foi instalada em dezembro. Entre os 35 membros titulares do colegiado, só seis são mulheres. Dos parlamentares integrantes, quase um terço tem iniciativas para restringir o direito ao aborto legal. 

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O presidente da comissão especial, deputado Evandro Gussi (PV-SP), negou que o texto aprovado nessa quarta coloque em risco as garantias já existentes. “Hoje essas formas não são punidas e assim vai permanecer. O maior impacto do texto é impedir que o aborto seja descriminalizado”, disse Gussi.

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A deputada Érika Kokay (PT-DF), no entanto, tem avaliação diferente. “Impede a discussão da interrupção da gravidez e traz, no mínimo, insegurança jurídica para os casos já permitidos no Código Penal”, afirmou.

Foi aprovado apenas o texto principal. Na próxima semana, será a vez de a comissão especial votar os destaques. Depois, o texto fica disponível para o plenário da Casa, onde precisará de 308 votos para ser aprovado, em dois turnos.

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