PT testa Haddad como opção para disputa em SP

Partido monta agenda para ministro na periferia da capital, na tentativa de aumentar sua inserção na militância e construir sua candidatura a prefeito

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Por Julia Duailibi
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Com o aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro Fernando Haddad (Educação) começou a ser "testado" pelo PT em agendas construídas nas zonas sul e leste da cidade de São Paulo e em contato com a militância. O objetivo é aumentar a inserção do petista na base do partido e diminuir a resistência a ele em setores do PT, de modo que seja construída sua candidatura para prefeito em 2012. Lula, que estreia como principal articulador da eleição em São Paulo nesta semana em encontro com prefeitos em Osasco, diz ter a convicção de que uma vitória na prefeitura da maior cidade do País é o primeiro passo do PT para derrotar a oposição em seu principal reduto, São Paulo, e se fortalecer para 2014. Ainda de acordo com essa avaliação, a vitória só seria possível se o partido apresentasse um nome novo e "palatável" para a classe média paulistana. Para ele, Haddad veste esse figurino. Apesar de o discurso para o público ser o de que Prefeitura de São Paulo não está nos seus planos, Haddad aceitou o diagnóstico feito por petistas - sobre sua frágil relação com as bases do partido - e cumpriu, no último mês, uma agenda política e social na capital paulista. No fim de março, esteve em Cidade Ademar e Pedreira, na zona sul, onde discutiu a questão de vagas nas creches paulistanas em um seminário sobre educação infantil. "Temos mais de 5 mil convênios disponíveis até 2014. Depende exclusivamente do desejo do poder local de aderir ao ProInfância", disse o ministro sobre programa do ministério voltado para municípios. Passou ainda por Itaquera, na zona leste, onde discutiu a construção de um campus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A instalação da universidade na região com maior número de eleitores na capital será um contraponto a uma das bandeiras do PSDB em São Paulo: a criação da USP na zona leste, em 2005. "Ele veio aqui e respondeu a todas as questões (sobre a nova universidade). Quando não pôde, mandou alguém da equipe", contou o Padre Ticão, da Paróquia São Francisco de Assis, em Ermelino Matarazzo. Na semana passada, o ministro foi a uma sabatina política. Reuniu-se em almoço num restaurante na Bela Vista com cerca de 30 prefeitos. Ouviu demandas e reclamações de petistas sobre a relação das prefeituras com o ministério. Deu sugestões de projetos de parcerias da pasta com os prefeitos. A maratona se estendeu para outra reunião, desta vez com 300 lideranças comunitárias da área de educação na Assembleia. Num auditório repleto de deputados do PT ele foi ovacionado e chegou a ser chamado de "pré-candidato". "Haddad vai disputar a indicação de homem mais bonito do PT", brincou a deputada estadual Telma de Souza. Resistência. O principal empecilho da "operação Haddad" é o próprio PT paulista. A avaliação geral é que o ministro não quis estreitar a relação com a legenda, quando foi cotado candidato a governador em 2010. Petistas paulistas dizem que Haddad carece de "sensibilidade política" e citam como exemplo o fato de não receber prefeitos nem parlamentares e de ter extinguido representação do ministério em São Paulo, ocupada por petistas. Em outro caso de "ausência de cálculo político", teria deixado o ensino técnico avançar pelas mãos dos tucanos, tornando-se marca exclusiva do PSDB no Estado. Para esse grupo, os escândalos envolvendo o Enem e o Sisu abalariam na classe média qualquer tentativa de construir a imagem do bom gestor que criou o ProUni, com mestrado e doutorado pela USP. Uma candidatura de Haddad também dependeria da boa vontade de outro ministro, Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), que conta hoje com o apoio partidário em São Paulo. Tarefa. Caberá a Lula, que esteve com Haddad em viagem a Portugal no fim de março, trabalhar para diminuir a resistência e costurar acordo com Mercadante e a ala da senadora Marta Suplicy, que também começou a se movimentar, interessada na eleição. Com o apoio da presidente Dilma Rousseff, Lula estaria disposto a fazer com o ministro o que fez por ela na eleição de 2010: mergulhar no projeto de elegê-lo desde que haja empenho da parte dele nessa tarefa. Na reunião da Assembleia, Haddad negou interesse na disputa eleitoral de 2012. "Não estou procurando mais problemas. Já tenho problemas suficientes", afirmou. Ao lado dele, alguns petistas agradeceram.

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