Rebelião continua em Salvador; amotinados ampliam pedidos

Rebelados também pedem garantias de melhoria na qualidade de serviços médicos e menos rigor na revista

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Por Tiago Décimo
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O terceiro dia de negociações entre os 719 presos rebelados no Presídio Salvador, no Complexo Penitenciário do Estado da Bahia, no bairro da Mata Escura, em Salvador (BA), foi concluído sem que amotinados e negociadores - membros da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, do Ministério Público e da Comissão de Justiça e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado - chegassem a um acordo. Às 18 horas desta terça-feira, as negociações foram interrompidas e devem ser retomadas apenas na quarta-feira, às 8 horas. Cinco pessoas - três agentes penitenciários e dois detentos considerados de boa conduta - são mantidas reféns desde o meio-dia de domingo. No local, ainda estão cerca de 150 familiares de presos, por vontade própria. Segundo o deputado estadual Yulo Oiticica (PT), presidente da comissão, o dia foi de poucos avanços e foram os próprios detentos que decidiram interromper as negociações. "Apesar disso, o clima é de tranqüilidade, na medida do possível", afirma. "Estamos analisando os pedidos dos detentos, já descartamos a possibilidade de invasão do local e aguardamos que a rebelião termine amanhã (quarta-feira) pela manhã." Mais cedo, os amotinados ampliaram a pauta de reivindicações. Além de pedir a volta de 51 presos transferidos, em 27 de junho, para a Unidade Especial Disciplinar (UED), onde os detentos não têm direito a visitas ou a banho de sol, os rebelados agora também pedem garantias de melhoria na qualidade dos serviços médicos e menos rigor na revista das visitas, bem como na liberação de alimentos levados por parentes. Na negociação, os representantes da Secretaria da Justiça propuseram o retorno de dez dos presos transferidos - o que foi aceito pelos amotinados, desde que, na lista, constassem os nomes de Maurício Vieira da Silva, conhecido como Cabeção, de 32 anos, e Josevaldo Bandeira, o Val, de 30 anos. Os dois são apontados pela polícia como importantes parceiros do traficante Eberson Souza Santos, conhecido como Piti, de 27 anos. Piti, tido como um dos maiores traficantes de drogas da Bahia, fugiu do complexo em 26 de junho, o que motivou a transferência dos 51 detentos, apontados como seus comparsas, para a UED, no dia seguinte. Eles deveriam ficar na unidade especial por um mês, mas continuam no local. Como resposta à contraproposta dos rebelados, a Secretaria da Justiça divulgou a informação de que é possível ampliar a lista de presos a ser transferidos de volta, mas descartou o retorno dos dois presos apontados pelos amotinados. "Nós vamos escolher quem volta, se for o caso", afirma o superintendente de Assuntos Penais da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia, coronel Francisco Leite. Do lado de fora do presídio, o clima, durante o dia de ontem, foi menos tenso que o registrado na segunda-feira, quando houve tentativa, por parte de familiares, de bloquear a avenida que dá acesso ao complexo penitenciário. Na maior parte do tempo, os parentes que foram ao local apenas tentavam saber dos policiais informações sobre as negociações - e falavam com os presos por telefone celular. "Isso não costuma ser problema", diz a mulher de um preso por roubo, que preferiu não se identificar.

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