Relatos de violência contra a mulher quase triplicam no carnaval

Um total de 3.174 mulheres telefonou para o Ligue 180 entre 1º e 9 de fevereiro deste ano; tipo de violência mais comum foi a física

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Por Luísa Martins
Atualização:
Pesquisa mostrou que metade dos homens acreditam que carnaval de rua não é lugar para 'mulher direita' Foto: WILTON JÚNIOR/ESTADÃO

BRASÍLIA - Os relatos de violência contra a mulher quase triplicaram neste carnaval, em relação ao período equivalente no ano passado. Um total de 3.174 mulheres telefonou para o Ligue 180 entre 1º e 9 de fevereiro deste ano, enquanto que no feriadão de 2015 foram 1.158.

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A pedido das denunciantes, mais da metade das denúncias foram encaminhadas para autoridades policiais e Ministério Público. O tipo de violência mais comum foi a física, relatada em 1.901 casos, seguida pela psicológica, com 279. Também foram registradas queixas de cárcere privado, violência moral, violência sexual, violência patrimonial e tráfico de pessoas.

Embora o cárcere privado não seja a denúncia mais comum, o aumento deste tipo de violência no carnaval deste ano, se comparado a 2015, é alarmante: 1.113%. “Os relatos que temos ouvido não são relacionados apenas àquelas mulheres que ficam trancadas em casa a sete chaves, mas também a situações em que o homem não a deixa sair sozinha para atividades simples, como ir à padaria ou apanhar o ônibus”, diz a secretária de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Aparecida Gonçalves.

Além do cárcere privado, todos os outros tipos de violência tiveram crescimento. As queixas de violência física e moral, por exemplo, mais que dobraram - e o número de agressões sexuais foi 147% maior. “Esses dados mostram que efetivamente houve um debate na sociedade que ampliou a compreensão sobre o que é violência contra a mulher”, afirma a secretária, salientando as campanhas virtuais #meuamigosecreto e #meuprimeiroassedio, que viralizaram nas redes sociais no fim do ano passado.

Quanto à alta dos crimes sexuais, a secretária lembra que, cinco anos atrás, o estupro era um crime silenciado, que só ocorria em locais escuros e era praticado por bandidos desconhecidos. Hoje, o sexo sem consentimento - ainda que entre namorados - também pode ser considerado crime. “A crueldade da violência nem sempre se apresenta da mesma forma. Isso tem feito as pessoas se assustarem, terem mais medo e denunciarem mais”, opina.

Denunciantes de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia foram as que mais utilizaram o serviço telefônico gratuito, principal porta de acesso aos serviços que integram a rede nacional de enfrentamento à violência contra a mulher, sob amparo da Lei Maria da Penha. Os cinco Estados correspondem a 60% do total de denúncias ao Ligue 180. “Algumas cidades em que o carnaval é uma festa muito forte, como Salvador e Recife, investiram bastante em campanhas de conscientização, encorajando as mulheres a denunciar todos os tipos de violência, e não só a física ou aquela que acontece dentro de casa”, diz Aparecida. Na capital baiana, o vocalista da banda Timbalada, Denny, chegou a interromper o show no trio elétrico, no último sábado, para dar bronca em um homem que estaria agredindo uma mulher.

De acordo com pesquisa feita pelo instituto Data Popular divulgada dia 6 de fevereiro, 61% dos homens acham que mulher solteira que pula carnaval não pode reclamar de cantadas e 49% deles creem que os festejos de rua não são lugares para “mulheres direitas”. Foram ouvidos 3,5 mil brasileiros maiores de 16 anos, em 146 municípios. “É uma naturalização do machismo”, diz o presidente do Data Popular, Renato Meirelles, lembrando que trata-se de assédio qualquer tipo de abordagem com a qual a mulher não concorde.

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