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Rio deve ganhar espaço para prática de religiões afro-brasileiras

Área no Parque Nacional da Tijuca usada por umbandistas e candomblecistas para colocação de oferendas será transformada; religiosos são criticados porque rituais podem poluir a floresta e provocar incêndios

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Atualizada às 21h15

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RIO - O Rio deve ganhar o primeiro espaço oficial destinado à prática das religiões afro-brasileiras e com preocupação ambiental. Será na Avenida Edson Passos, no Alto da Boa Vista, dentro do Parque Nacional da Tijuca, uma área usada por umbandistas e candomblecistas para a colocação de oferendas em culto aos orixás. Eles sofrem críticas porque os rituais podem poluir a floresta e provocar incêndios.

O projeto executivo do Espaço Sagrado da Curva do S ainda está sendo desenvolvido e, por isso, os custos não foram mensurados. Mas, anteontem, o secretário do Meio Ambiente do Rio, Carlos Portinho, participou de uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e, diante de representantes de grupos religiosos, garantiu o andamento do projeto.

Portinho não sabe quando seria a inauguração, pois o Fundo da Mata Atlântica, que reúne cursos de compensações ambientais depositados por empresas e que iria bancar a construção, ainda terá de aprová-lo.

Os religiosos estavam apreensivos porque o secretário anterior, Índio da Costa, do qual Portinho era sub, titubeou, por pressão de parlamentares evangélicos. "O Índio me disse que iria suspender o projeto porque dois deputados evangélicos de seu partido não entendiam como dinheiro público podia ser usado para fazer um ‘macumbódromo’", relatou o deputado Carlos Minc, antecessor na pasta e criador do projeto.

Foi Minc, na condição de presidente da comissão da Alerj de combate às discriminações e preconceitos de cor, raça e etnia e procedência nacional, quem convocou a audiência. Ele está elaborando um projeto de lei que prevê a implantação de outros espaços em parques.

"Eu expliquei ao secretário que ‘macumbódromo’ é um termo pejorativo que só reforça o estigma, e que o dinheiro não é público, mas oriundo de compensações ambientais. A ideia é dar liberdade, conforto e segurança às pessoas e proteger a floresta. Esse espaço consta do plano de manejo do parque há 14 anos", disse Minc.

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"Foi criada uma polêmica como se fôssemos cancelar o projeto, mas isso não aconteceu. Qualquer projeto de viés ambiental, seja de que grupo for, é de interesse da secretaria", assegura Portinho. A ideia é que o espaço sirva a dois propósitos: o enfrentamento da intolerância religiosa e a conservação da Mata Atlântica.

Pela maquete baseada na proposta inicial, a área teria 10 mil m2 e estruturas ao redor das árvores e margens dos rios, para que os rituais não poluam.

Biodegradável. Os frequentadores serão orientados a usar materiais biodegradáveis nas oferendas, como folhas de bananeira e cuias de coco no lugar dos recipientes de barro, vidro e louça, a não abandonar alimentos na mata e a não acender velas, que podem dar início a queimadas. Uma sinalização mostrará recantos para cada orixá.

"Esse espaço pode virar referência no Brasil", afirma o babalaô Ivanir dos Santos. "Tem muita sujeira, sim, gente que deixa os rituais na floresta sem entender o que está fazendo", diz Graça Nascimento, coordenadora do Movimento Inter-religioso do Rio.

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